2024
Margaret Livingstone, Nancy Kanwisher, Doris Tsao e Winrich Freiwald
Margaret Livingstone, Nancy Kanwisher, Doris Tsao e Winrich Freiwald
O trabalho coletivo desenvolvido por estes investigadores permitiu avanços significativos no campo da neurociência visual, demonstrando como o cérebro processa e reconhece rostos, um aspeto fundamental da interação social e da cognição humana.
Margaret Livingstone, da Harvard Medical School, contribuiu de forma significativa para a compreensão dos mecanismos cerebrais subjacentes à visão. O seu trabalho demonstrou que as primeiras áreas do cérebro que processam o que vemos – as áreas V1 e V2 – estão organizadas em partes separadas, especializadas na cor, forma, movimento e profundidade. Estas descobertas revolucionárias forneceram a base para a compreensão de inúmeros fenómenos de perceção e propôs uma hipótese relevante para perceber a causa da dislexia.
Numa fase anterior, a neurocientista tinha explorado a forma como a biologia e as técnicas artísticas de produção de ilusões de ótica influenciam a nossa perceção da arte. Hoje sabemos que a forma como vemos a arte está também intrinsecamente ligada à forma como o cérebro processa a visão. A forma como alguns grandes pintores com patologias oculares veem o mundo define a sua arte. E assim nascem obras únicas porque o cérebro dos seus autores perceciona a cor, a luz, a forma e o movimento de forma diferente. A intersecção entre a arte e a ciência é uma pequena parte de um quadro mais vasto que envolve a forma como reconhecemos os rostos dos outros.
Os investigadores Nancy Kanwisher, Doris Tsao e Winrich Freiwald descobriram um sistema de áreas do cérebro que são fundamentais para reconhecer rostos. Esta investigação permitiu compreender como o cérebro processa as características faciais desde o reconhecimento inicial até à identificação da pessoa. A mesma investigação permitiu identificar populações neurais específicas responsáveis por codificar várias características faciais, decifrando-se a estrutura que o cérebro usa para reconhecer rostos individuais.
Nancy Kanwisher, do MIT, identificou a área fusiforme da face (FFA), uma região cerebral especializada na perceção facial. Com recurso à neuroimagem demonstrou como áreas específicas se dedicam ao processamento de rostos, estabelecendo conhecimentos fundamentais sobre a base neural do reconhecimento facial.
Winrich Freiwald, da Universidade Rockefeller, descobriu circuitos que suportam funções especializadas da visão e cognição de alto nível. Juntamente com Doris Tsao, descobriu uma rede de processamento facial, com áreas para a análise do movimento facial e reconhecimento de rostos familiares, ligando a visão à memória e ao controlo da atenção. Essas descobertas revelaram novos princípios computacionais na visão e estabeleceram um novo paradigma experimental para as ciências da visão e cognição.
Doris Tsao, da Universidade da Califórnia Berkeley, obteve desenvolvimentos significativos na compreensão da codificação neural dos rostos. A sua investigação permitiu identificar e caracterizar as populações neurais responsáveis pela codificação das características faciais e forneceu insights críticos sobre a forma como o cérebro integra e processa essas informações para facilitar o reconhecimento facial, demonstrando a complexidade e especificidade dos mecanismos neurais subjacentes à perceção facial.
Estas investigações juntaram neurociência molecular, celular e de sistemas, ligando a atividade de neurónios e regiões cerebrais específicas ao complexo comportamento do reconhecimento facial. O trabalho coletivo resultou numa compreensão unificada de como os rostos são percebidos e reconhecidos, impactando profundamente os campos da neurobiologia, neurociência cognitiva e processamento visual. Estas descobertas não só permitiram melhorar o conhecimento sobre a função cerebral, como também podem ter implicações na compreensão e tratamento de distúrbios relacionados com a perceção facial. Esta investigação combinou diferentes abordagens científicas para resolver um dos maiores desafios das neurociências e que poderá levar a novas descobertas no futuro.
O trabalho coletivo destes neurocientistas gerou um profundo avanço no campo da neurociência visual, elucidando a forma como o cérebro processa e reconhece os rostos, como vê as cores, as formas e o movimento, dando novas abordagens para compreensão de perturbações da visão.
Estas descobertas não revelam apenas os segredos do cérebro. Abrem portas para novas formas de entender como vemos o mundo e como o mundo nos vê a nós.
Uma vitória da ciência que promete reescrever o destino da visão humana, abrindo caminho para o conhecimento e tratamento de problemas visuais com grande impacto na aprendizagem, como a dislexia e a incapacidade de reconhecimento facial. Ao mesmo tempo, permitem uma melhor compreensão da plasticidade do cérebro e o desenvolvimento de estímulos para combater o declínio cognitivo, como as demências.