05 Setembro 2024
O Conselho Europeu de Investigação (ERC) anunciou os resultados das candidaturas às Starting Grants 2024, premiando Andrada Ianuş, atual visiting scientist da Fundação Champalimaud (FC), a única vencedora em Portugal na área das Ciências da Vida.
As ERC Starting Grants são um dos prémios de investigação mais prestigiados e competitivos da Europa, concebidos para apoiar investigadores promissores em início de carreira que tenham potencial para se tornarem líderes nas suas áreas. Ianuş receberá 2 milhões de euros para desenvolver, nos próximos cinco anos, o seu projeto de investigação no King’s College London, onde ingressou recentemente como Professora de Engenharia da Saúde.
O projeto de Ianuş visa avançar na ressonância magnética (MRI) de ultra-alta definição para detetar pequenas metástases de cancro em estádio inicial no fígado, atualmente indetetáveis com a tecnologia de imagem existente. Este avanço poderá levar a diagnósticos mais precoces, tratamentos mais eficazes e, em última análise, a melhores taxas de sobrevivência para doentes com cancro.
As metástases de cancro, especialmente as que ocorrem no fígado, continuam a representar um grande desafio em oncologia. Com base na sua investigação anterior em ressonância magnética quantitativa, Ianuş desenvolverá ferramentas inovadoras de processamento de imagem e modelos matemáticos para melhorar a resolução da imagem e compreender como os sinais de ressonância magnética se correlacionam com alterações no tecido hepático numa escala microscópica.
O projeto, denominado MicroMetSCAN, combinará abordagens de ponta na aquisição e análise de ressonância magnética para caracterizar como os processos biológicos subjacentes à metástase são refletidos nas imagens de ressonância magnética. Ao estudar os estádios iniciais da metástase hepática, o MicroMetSCAN fornecerá informações cruciais sobre os padrões de crescimento do tumor e as alterações que os acompanham nas estruturas dos tecidos.
Este conhecimento será então aplicado para criar novas metodologias de ressonância magnética para uso clínico, melhorando a clareza da imagem para detetar até mesmo as menores metástases hepáticas. Em última análise, estes avanços poderão reduzir a mortalidade relacionada com o cancro e melhorar a qualidade de vida dos doentes em todo o mundo. “Este financiamento do ERC permitir-nos-á avançar significativamente o estado da arte na ressonância magnética do fígado, permitindo a deteção precoce e caracterização de micrometástases e alterações nos tecidos relacionadas que são atualmente invisíveis com as técnicas de imagem atuais”, explica Ianuş.
Ianuş é licenciada em Física pela Jacobs University Bremen e doutorada em Imagens Médicas e Biomédicas pela University College London (UCL). Realizou pós-doutoramentos na UCL e FC, onde recebeu diversas bolsas de prestígio, incluindo as bolsas Marie Skłodowska-Curie e la Caixa Junior Leader. O seu trabalho avançou significativamente a ressonância magnética quantitativa para mapear a microestrutura de tecidos, com aplicações em imagens cerebrais e de cancro.
Para 2024, o ERC reservou um orçamento de 780 milhões de euros para apoiar 494 Starting Grants abrangendo vários campos de investigação, incluindo as Ciências da Vida, atraindo 3,474 candidaturas. Na área das Ciências da Vida, foram financiadas 146 propostas das 992 propostas apresentadas.
As ERC Starting Grants visam capacitar Investigadores Principais de destaque que estão a iniciar a criação das suas equipas ou programas de investigação independentes. Para ser considerado competitivo para a Starting Grant, um Investigador Principal deve não apenas apresentar uma proposta científica inovadora, ambiciosa e viável, mas também demonstrar autonomia e maturidade científica (por exemplo, ser autor de uma publicação relevante, seja enquanto autor principal ou sem o envolvimento do seu mentor de doutoramento)..
