Dito isto, esta definição tem vindo a expandir-se ao longo dos anos, incluindo hoje potenciais substâncias quimiopreventivas que não são necessariamente medicamentos. Os chamados "nutracêuticos", tais como as fibras alimentares, os prebióticos, os probióticos, os ácidos gordos polinsaturados, os antioxidantes (como as vitaminas) e diferentes tipos de alimentos naturais ou à base de plantas (suplementos alimentares) também estão a ser estudados no âmbito da quimioprevenção do cancro. No entanto, até à data, a eficácia destas substâncias não foi confirmada. Seja como for, sabendo-se que a obesidade e a diabetes aumentam o risco de cancro, os hábitos alimentares que ajudam a prevenir estas doenças podem também, potencialmente, ajudar a prevenir o cancro.
Voltando à definição mais estrita, existem exemplos bem conhecidos de medicamentos quimiopreventivos na área do cancro da mama. O tamoxifeno e o raloxifeno, designados SERM na sigla em inglês (moduladores selectivos dos receptores do estrogénio), ajudam a prevenir o cancro da mama interferindo com o estrogénio, a hormona sexual feminina envolvida no desenvolvimento do cancro. No entanto, estes medicamentos não são isentos de efeitos secundários, pelo que são sobretudo administrados como profilaxia a mulheres com um risco muito elevado de cancro da mama, nomeadamente devido a uma forte história familiar da doença.
Existem também duas vacinas que são, na realidade, medicamentos que previnem o cancro. Uma é a vacina contra a hepatite B, que impede a infecção pelo vírus da hepatite B, causa potencial de cancro do fígado. A outra é a vacina contra o HPV, que protege contra a infecção por várias estirpes do vírus do papiloma humano (HPV na sigla em inglês), que pode conduzir ao cancro do colo do útero. Vacinas contra outros tipos de cancro estão a ser activamente estudadas.
Há ainda outros medicamentos considerados como possíveis substâncias quimiopreventivas do cancro. É o caso da aspirina: resultados de estudos sugerem que a sua utilização a longo prazo pode contribuir para a prevenção do cancro do cólon. Mas também neste caso, os resultados são por vezes contraditórios. Além disso, a aspirina é também conhecida por causar efeitos secundários graves, como hemorragias no estômago e no cérebro.
A quimioprevenção eficaz do cancro tem ainda um longo caminho pela frente. Numerosos ensaios clínicos estão a decorrer.
Fontes:
https://www.cancer.gov/
https://www.oncolink.org/
https://www.guysandstthomas.nhs.uk/
https://www.mayoclinic.org/
Por Ana Gerschenfeld, Health & Science Writer da Fundação Champalimaud.
Revisto por Professor António Parreira, Diretor Clínico do Centro Clínico Champalimaud.