21 Agosto 2024

Check Up #25 - Sabia que algumas afirmações sobre os riscos de cancro são, na verdade, mitos?

Muito se tem dito sobre as causas do cancro. Algumas são obviamente verdadeiras: fumar causa realmente cancro, as dietas pouco saudáveis e a exposição excessiva ao Sol são factores de risco muito reais, para citar três das mais conhecidas. Mas outras afirmações resultam de equívocos da "sabedoria popular", que atribuem a culpa a factores de risco hipotéticos sem qualquer base científica. Tal como acontece com as fake news, estas alegações soam tão verdadeiras que tornam os hipotéticos riscos muito convincentes e costumam assustar as pessoas.

Check Up #25 - Did you know that certain claims about cancer risks are actually myths?

Eis algumas alegações recorrentes mas não comprovadas

Os telemóveis e a Wi-Fi podem causar cancro. Falso. As ondas de rádio das redes móveis não transportam energia suficiente para danificar o ADN, ao contrário da chamada radiação ionizante, como os raios ultravioleta do Sol. "É verdade que a Agência Internacional de Investigação do Cancro (IARC) classificou a radiação de radiofrequência não ionizante (como a utilizada pelos telemóveis) como 'possivelmente cancerígena'", afirma o sítio web da Cancer Research UK. "Mas é também assim que a IARC classifica o aloé vera e a samambaia [um feto comum de interior]". O sítio na web Cancer.gov apresenta contra-argumentos semelhantes.

O aspartame pode causar cancro. Falso. Também da Cancer Research UK: "A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) estabeleceu uma dose diária aceitável (DDA) para o aspartame. Equivale a cerca de 14 latas de bebida gaseificada dietética para uma pessoa que pesa cerca de 70 kg. Ou seja, mais latas do que a maioria das pessoas consumiria num dia".

Os sutiãs com aros podem causar cancro da mama. Falso. Este rumor corre há muito tempo. Uma das noções subjacentes é que "os sutiãs com armação restringem a circulação do fluido linfático.” Mas não é isso que acontece, de acordo com a Cancer Research UK. "Na realidade, o fluido linfático circula para cima, para os gânglios linfáticos das axilas, e não em direção ao aro."

Os desodorizantes podem causar cancro da mama. Falso. "Alguns relatórios sugeriram que estes produtos contêm substâncias nocivas, como compostos de alumínio e parabenos, que podem ser absorvidos através da pele ou entrar no corpo através de cortes causados ao fazer a barba. As evidências até à data sugerem que estes produtos não causam cancro", diz o site da Mayo Clinic, lembrando que as pessoas mais preocupadas podem sempre evitar usar produtos que contenham estes químicos.

Os alimentos provenientes de organismos geneticamente manipulados (OGM) podem causar cancro. Falso. Em primeiro lugar, não existem boas explicações para dar conta de um efeito promotor de cancro nestes alimentos. Ainda segundo o sítio web da Cancer Research UK, "as pessoas preocupam-se com o facto de os alimentos geneticamente manipulados não serem naturais e poderem ser prejudiciais. Mas há centenas de anos que alteramos os genes dos seres vivos, seleccionando plantas e animais para reprodução". E isso nunca esteve relacionado com o cancro.

Um golpe na mama pode causar cancro. Falso. Claro que um golpe pode provocar o aparecimento de um caroço, mas isso não é cancro.

O bisfenol A (BPA) presente em recipientes e garrafas de plástico pode causar cancro. Falso. Mesmo que o BPA passe para os alimentos ou para a água, em particular quando o plástico é aquecido, as experiências laboratoriais que sugeriam que os químicos encontrados nos plásticos têm efeitos cancerígenos envolviam células humanas ou animais, de acordo com a Cancer Research UK. E a forma como, por exemplo, as células entravam em contacto com os plásticos também era totalmente diferente do que aconteceria no corpo humano. Todavia, o sítio web da Clínica Mayo recomenda que se evite utilizar recipientes não aptos para aquecer alimentos no micro-ondas.

A atitude determina o risco de contrair e de sobreviver ao cancro. Falso. De acordo com o site Cancer.gov, "até à data, não existem provas científicas convincentes que relacionem a ‘atitude’ de uma pessoa com o seu risco de desenvolver ou morrer de cancro". É normal que as pessoas com cancro se sintam por vezes tristes, zangadas, desanimadas – e por vezes optimistas, positivos. Mas também é verdade que as pessoas com uma atitude positiva podem ter mais probabilidades de manter ligações sociais e de se manterem activas – e, isso sim, a atividade física e o apoio emocional podem ajudar a lidar com o cancro.

Há muitas outras afirmações como estas. Talvez algumas delas possam um dia vir a revelar-se verdadeiras, mas, de momento, não existem provas suficientes para as sustentar – e é possível que nunca venham a existir. Entretanto, é muito mais benéfico concentrarmo-nos nos verdadeiros perigos conhecidos – e deixar de fumar, beber moderadamente, comer de forma saudável e evitar banhos de Sol, entre outras coisas. Todos estes hábitos de vida irão certamente reduzir de forma substancial o risco de cancro.

Fontes:

https://www.cancerresearchuk.org/
https://www.mayoclinic.org/
https://www.cancer.gov/

Texto por Ana Gerschenfeld, Health & Science Writer da Fundação Champalimaud.

Revisto por Professor António Parreira, Director do Centro Clínico Champalimaud.
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