28 Setembro 2023

Check Up #18 - Efeitos secundários do tratamento do cancro. Como classificá-los?

Efeitos secundários, efeitos secundários a longo prazo, efeitos tardios e sequelas dos tratamentos contra o cancro. O que os distingue?

Check Up #18 - Efeitos secundários do tratamento do cancro. Como classificá-los?

Um efeito secundário "é qualquer efeito de um fármaco, produto químico ou outro medicamento que é adicional ao seu efeito pretendido, e em particular um efeito que é prejudicial ou desagradável".

Todos já ouvimos falar dos efeitos secundários comuns dos tratamentos contra o cancro, tal como as náuseas, os vómitos, a fadiga ou a queda do cabelo. As náuseas e os vómitos cessam e o cabelo volta a crescer quando o tratamento termina. Pelo contrário, a fadiga pode ser duradoura. E mais: o tipo de efeito secundário depende do tipo de cancro e da pessoa que está a ser tratada.

Os efeitos secundários não são apenas físicos; podem também ser emocionais. Os sobreviventes de cancro podem sentir-se deprimidos, ansiosos, sozinhos – e podem mesmo sofrer de stress pós-traumático, uma vez que o diagnóstico e a terapia do cancro são acontecimentos de vida traumáticos.

De facto, existem diferenças importantes – em termos do momento em que os efeitos secundários se declaram, da sua duração, da gravidade e dos danos crónicos dos efeitos secundários conforme sejam decorrentes de quimioterapia, radioterapia, cirurgia ou outros tratamentos contra o cancro. Vamos tentar classificá-los.

Como já referimos, alguns efeitos secundários desaparecem quando o tratamento acaba. Os feitos secundários que aparecem durante o tratamento, mas que não desaparecem no fim do tratamento, podendo persistir ao longo do tempo, são qualificados de efeitos secundários a longo prazo.

A fadiga – essa sensação constante de cansaço físico, emocional e mental – é o efeito secundário mais frequente do tratamento do cancro. E é um bom exemplo de efeito secundário a longo prazo.

Quando os efeitos secundários aparecem meses ou mesmo anos após o fim do tratamento, são designados por efeitos secundários tardios. Por exemplo, a quimioterapia ou a radioterapia podem causar vários efeitos secundários tardios, tais como problemas dentários, menopausa precoce, perda de audição, problemas cardíacos, aumento do risco de outros cancros, infertilidade, perda do paladar, lesões nervosas, problemas de memória, osteoporose, problemas digestivos, entre outros. 

De facto, cancros secundários ou novos cancros primários podem desenvolver-se como efeito tardio de tratamentos oncológicos anteriores ou devido ao facto de o cancro original se ter espalhado para outras partes do corpo (quando o tratamento não consegue erradicar todas as células cancerosas).

No que diz respeito à radioterapia, esta pode induzir uma diversidade de efeitos secundários, tanto a longo prazo como tardios: perda permanente de saliva, cáries dentárias, cicatrização deficiente de feridas, alterações cutâneas e cancro da pele, linfedema, hipotiroidismo, tonturas, vertigens, dores de cabeça, etc. Outro efeito secundário a longo prazo da radioterapia é o aumento do risco de acidente vascular cerebral (AVC) devido às elevadas doses de radiação recebidas pelo cérebro.

Tanto a quimioterapia como a radioterapia podem também danificar as células estaminais da medula óssea, aumentando o risco de leucemia aguda e de outros cancros do sangue. Os danos causados aos nervos periféricos (fora do cérebro e da medula espinal), conhecidos como neuropatia periférica, são outro efeito secundário a longo prazo destes tratamentos.

Quando os efeitos secundários causam danos mais profundos num órgão ou sistema do corpo, são designados por sequelas. No caso do cancro da próstata, por exemplo, as sequelas mais frequentes e bem conhecidas da cirurgia são a incontinência urinária e a disfunção eréctil.

Fontes:
https://www.yalemedicine.org/
https://www.cancer.org/
https://www.cancer.gov/
https://www.cancer.net/
https://www.e-roj.org/articles/archive.php
https://www.lls.org/
https://www.merckmanuals.com/

Por Ana Gerschenfeld, Health & Science Writer da Fundação Champalimaud.

Revisto por Professor António Parreira, Diretor Clínico do Centro Clínico Champalimaud.
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