28 Dezembro 2023

Check Up #21 - Pode o melanoma afetar outros órgãos que não a pele?

O melanoma maligno é um dos cancros da pele mais importantes devido à sua frequência e potencial gravidade.

Check Up #21 - Pode o melanoma afetar outros órgãos que não a pele?

Mas existem também outras formas de melanoma maligno, embora muito mais raras, que podem desenvolver-se noutras partes do corpo.

Por exemplo, o melanoma das mucosas ocorre nas membranas mucosas, que revestem o interior de diversas cavidades do corpo. Os melanomas das mucosas podem surgir na cabeça e no pescoço, na região anorrectal, na região vulvovaginal e no tracto urinário. Estes melanomas têm, em geral, um pior prognóstico do que os melanomas cutâneos.

Existem ainda melanomas oculares, um tipo de cancro do olho que surge na úvea, a camada situada sob a esclerótica (a membrana branca do olho). A úvea inclui a íris, a parte colorida do olho; a coróide, uma densa rede de vasos sanguíneos e tecido conjuntivo pigmentado localizado entre a retina e a esclerótica; e o corpo ciliar, a estrutura que produz fluido no olho. Embora seja muito mais raro do que o melanoma cutâneo, verificam-se vários milhões de novos casos de melanoma ocular por ano. Quando o melanoma ocular se dissemina (50% dos doentes), em 90% dos casos propaga-se para o fígado. Os melanomas oculares são difíceis de diagnosticar porque são frequentemente assintomáticos.

Oliver Sacks, o neurologista britânico famoso pelos seus maravilhosos "contos clínicos" (como "O homem que confundiu a mulher com um chapéu") e pelos seus livros (como "Despertares", que foi adaptado para o cinema num filme protagonizado por Robert de Niro e Robin Williams), foi diagnosticado com melanoma ocular em 2006 e escreveu sobre a sua experiência no seu livro de 2010 "The Mind's Eye", publicado em Portugal pela Relógio d' Água sob o título "O Olhar da Mente". 

Dada a complexidade do melanoma ocular, e apesar de não se enquadrar no foco principal da Fundação Champalimaud – que são o melanoma cutâneo e o das mucosas –, a instituição colaborou como parceira num consórcio internacional denominado UM Cure 2020. Esta iniciativa de cinco anos teve como objetivo validar novas abordagens terapêuticas, na fase pré-clínica, para o melanoma ocular metastático.

Os melanomas começam em células chamadas melanócitos. Na pele, estas são as células que produzem um pigmento chamado melanina, que dá à pele a sua cor e é responsável pelo bronzeado. No olho, existem melanócitos nas áreas pigmentadas da úvea. E existem ainda melanócitos nas mucosas, em particular na cavidade nasal, na cóclea do ouvido e no cérebro.

O factor de risco mais importante para o desenvolvimento do melanoma cutâneo – cuja incidência, como já foi referido, ultrapassa largamente a de qualquer outra forma de melanoma – é, de longe, a exposição à radiação UV (do sol ou dos solários), que provoca uma acumulação de mutações genéticas potencialmente cancerígenas.

O melanoma cutâneo pode ser tratado se for detectado precocemente, mas os dermatologistas concordam em dizer que a melhor estratégia é a prevenção, evitando a exposição excessiva à radiação UV. De acordo com a Liga Portuguesa contra o Cancro, há cerca de 1500 novos casos de melanoma por ano em Portugal.

Iremos aprofundar o tema do melanoma cutâneo numa entrevista com dois médicos da Unidade de Dermatologia da Fundação Champalimaud, que será publicada neste site dentro de umas semanas.
 

Fontes:

https://medlineplus.gov/
https://www.skincancer.org/
https://www.ligacontracancro.pt/
https://www.mayoclinic.org/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/
https://institut-curie.org/
https://fchampalimaud.org/
 

Por Ana Gerschenfeld, Health & Science Writer da Fundação Champalimaud.

Revisto por: Professor António Parreira, Diretor Clínico do Centro Clínico Champalimaud & Daniela Cunha, Coordenadora da Unidade de Dermatologia do Centro Clínico Champalimaud 
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