13 Julho 2022

Check Up #3 - Incidência e prevalência: o que significam, o que medem e para que servem?

Check Up é uma nova série de textos curtos através da qual pretendemos proporcionar aos doentes com cancro e às suas famílias (bem como ao público interessado), informação clara e concisa sobre temas e questões concretas, relacionadas com a Oncologia; temas e questões essas que são alvo de preocupação frequente na população em geral, mas por vezes confusas ou de difícil compreensão. O nosso objetivo é que as informações que aqui irão sendo publicadas contribuam para que a linguagem utilizada em Oncologia seja de fácil e rápida compreensão para todos.

Check up #3 - Incidência e prevalência: o que significam, o que medem e para que servem?

Incidência e prevalência: o que significam, o que medem e para que servem?

A incidência e a prevalência são duas medidas estatísticas da frequência de uma doença. Aplicam-se a todas as doenças, embora aqui o nosso foco seja no cancro.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a incidência como sendo “o número de novos cancros num local/de um tipo específicos que surgem, por ano, por 100.000 habitantes”. Quanto à prevalência, inclui não apenas os novos casos, mas todos os casos existentes de um dado cancro numa dada população em determinado momento ou período de tempo.

De facto, a incidência de cada tipo de cancro numa população representa o risco de os indivíduos dessa população desenvolverem esse cancro, enquanto a prevalência reflecte o peso (em inglês burden) desse cancro na dita população. Por isso, os epidemiologistas usam estes valores para fins diferentes: a incidência como ferramenta para identificar factores de risco para um determinado cancro na população; a prevalência como base para orientar a planificação e gestão das unidades de cuidados de saúde a partir do número de doentes que existem em simultâneo.

Não podemos falar de estatísticas do cancro sem mencionar a mortalidade – o número de mortes, por ano, por 100.000 habitantes –, que pode ainda ser discriminada por local de residência, idade, sexo, etc. Como explica o Instituto do Cancro dos EUA, visto que a mortalidade por cancro aumenta à medida que a população envelhece, os epidemiologistas usam antes a chamada “mortalidade padronizada para a idade” (nomenclatura do Ministério da Saúde), na qual o factor idade foi removido da equação, como indicador dos avanços feitos contra o cancro.

Todos os anos, o Observatório Global do Cancro (OGC) da OMS, anteriormente conhecido como GLOBOCAN, publica um amplo conjunto de estatísticas de incidência, a nível mundial, relativo ao ano anterior, para informar sobre o estado do controlo do cancro e da investigação em cancro. Também fornece estimativas futuras para todos os cancros no geral e para cada tipo de cancro em particular, nomeadamente por país. “Os dados apresentados do OGC são considerados os melhores disponíveis para cada país a nível mundial”, escreve o OGC no seu site web, gco.iarc.fr . “O GCO fornece estatísticas globais do cancro e estimativas da incidência e da mortalidade em 185 países para 36 tipos de cancro, bem como para todas as localizações de cancro combinadas.”

Isto permite fazer um ranking dos cancros. Só para dar um exemplo, em 2020 os cancros mais comuns a nível mundial, em termos de novos casos (incidência), para ambos os sexos e todas as idades, eram: mama (2,26 milhões de casos), pulmão (2,21 milhões de casos), colorectal (1,93 milhões de casos), próstata (1,41 milhões de casos), pele (excluindo o melanoma) (1,20 milhões de casos) e estômago (1,09 milhões de casos). No caso de Portugal, apenas cinco tipos surgiam no topo da lista, e numa ordem diferente: colorectal (10.501 casos), mama (7.041 casos), próstata (6.759 casos), pulmão (5.415 casos) e estômago (2.950 casos).

Por Ana Gerschenfeld, Health & Science Writer da Fundação Champalimaud.
Revisto por: Professor António Parreira, Diretor Clínico do Centro Clínico Champalimaud.
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