O projeto de Rhiner procura entender os circuitos moleculares e celulares que ajudam o cérebro a recuperar de lesões. Danos no sistema nervoso interrompem as redes formadas por fortes ligações entre células cerebrais, levando a drásticas alterações nas interações celulares, processos que não são ainda bem compreendidos. O projeto BrainSySTEMic foi desenhado para decifrar os diálogos moleculares interrompidos em tecidos cerebrais lesionados e descobrir novas vias de comunicação que promovem a regeneração e fortalecem a capacidade de recuperação por parte do cérebro.
O financiamento ERC-Portugal da FCT garante apoio vital a projetos de elevada qualidade, como o BrainSySTEMic, que, apesar de terem sido classificados como excelentes, na sequência da sua apresentação final a um painel de seleção do Conselho Europeu de Investigação (ERC), não receberam financiamento por limitação de recursos.
Usando o modelo da mosca da fruta para estudar lesões cerebrais em adultos, a equipa de Rhiner contribuiu para uma maior compreensão dos mecanismos de reparação chave no cérebro. Esta abordagem revelou uma rede crucial de comunicação célula a célula que ativa células cerebrais dormentes capazes de fornecer novas células para a reparação do tecido - um fenómeno observado não apenas em moscas da fruta, mas também em mamíferos como os ratinhos. O projeto visa aprofundar ainda mais o conhecimento, e estabelecer de que forma as lesões cerebrais alteram as propriedades das células e redes cerebrais, descobrir mecanismos de regeneração e investigar como tais lesões impactam o funcionamento de outros órgãos no corpo.
Recorrendo a uma abordagem abrangente, o BrainSySTEMic irá focar-se em três aspetos-chave da lesão cerebral e recuperação ao nível do tecido e do organismo. A estratégia inclui:
1. Mapear as alterações moleculares em diferentes células cerebrais após lesão;
2. Identificar circuitos celulares e moleculares que promovem a reparação;
3. Explorar como as lesões cerebrais afetam outros órgãos no corpo, seguindo o trajeto de sinais do cérebro para tecidos na periferia.
Destacando as implicações mais amplas desta investigação, Rhiner nota, "Danos no tecido cerebral afetam significativamente o funcionamento de outros órgãos no corpo, mas os mecanismos por trás disto ainda são um mistério. Graças a este financiamento ERC-Portugal, temos a oportunidade de estudar como uma lesão num órgão pode impactar a função e vulnerabilidade a doenças de outro órgão".
O projeto está preparado para fazer avanços significativos na compreensão de como o cérebro comunica com o resto do corpo durante a recuperação. Rhiner acrescenta, "Com o generoso apoio da FCT, podemos agora estudar as moléculas que o cérebro liberta para instruir os outros órgãos. Utilizaremos métodos de alta resolução para seguir proteínas em conjunto com o nosso modelo de mosca da fruta, um sistema genético excelente para estudar a comunicação entre orgãos. Além disso, estudos preliminares usando este modelo mostraram que os órgãos periféricos da mosca sofrem alterações semelhantes às observadas em doentes após lesão cerebral, destacando a relevância do modelo para a saúde humana".
Rhiner conclui, "Esperamos que as descobertas do BrainSySTEMic possam estabelecer conhecimento fundamental para a aplicação de novas estratégias regenerativas para a saúde cerebral e corporal. Este trabalho preliminar tem o potencial de abrir o caminho para o desenvolvimento de novos tratamentos que consigam melhorar a reparação de tecidos, controlar doenças crónicas e prevenir o aparecimento do cancro".
Texto por Hedi Young, Editor e Science Writer da Equipa de Comunicação, Eventos & Outreach da Fundação Champalimaud.
Traduzido por Catarina Ramos, Coordenadora da Equipa de Comunicação, Eventos & Outreach da Fundação Champalimaud.