25 Maio 2023

Como os animais usam o olfato para determinar a identidade e a localização de outros animais

Uma exploração mecanística às vias neurais da Drosophila revela como o olfato codifica a identidade e a localização dos estímulos.

Como os animais usam o olfato para determinar a identidade e a localização de outros animais

Muitos animais dependem do olfato para identificar e localizar objetos ao seu redor e reagir adequadamente. Para melhor investigar este fenómeno, o grupo liderado por Greg Jefferis investigador principal do Laboratório de Biologia Molecular (LBM) no Campus Biomédico de Cambridge estabeleceu uma colaboração com cientistas do Laboratório de Comportamento e Metabolismo, liderado por Carlos Ribeiro, na Fundação Champalimaud (FC) e do Grupo de Drosophila Connectomics da Universidade de Cambridge e juntos estudaram moscas da fruta machos. Estes animais são conhecidos por libertar uma feromona, chamada de acetato de cis-vaccenil (cVA), que é detetado por um canal olfativo específico e que atua como um afrodisíaco nas fêmeas, mas que nos machos promove agressividade. Os investigadores do LBM tiraram partido desta diferença, baseada no sexo, na reação a esta feromona, para determinar a primeira explicação mecanística de como o olfato pode codificar tanto a identidade quanto a localização de um estímulo.

Os investigadores estudaram o cérebro da Drosophila a vários níveis, construindo modelos de circuitos para examinar como os diferentes aspetos de um sinal sensorial são separados pelo cérebro. A sua abordagem foi guiada pelo recém-publicado conectoma de resolução sináptica (um mapa de conexões cerebrais) do cérebro adulto da Drosophila e sua análise, um trabalho levado a cabo por membros do laboratório de Greg Jefferis.

Recorrendo a moscas geneticamente modificadas, o grupo conseguiu testar as hipóteses geradas a partir do seu mapa de conetividade. A microscopia fluorescente permitiu o registo de como células neurais específicas respondem a estímulos e, através da alteração da atividade das células, conseguiram identificar qual o comportamento social que estas células representam.

Examinando como as moscas fêmeas usam o cheiro para determinar a localização dos estímulos, o grupo descobriu que as moscas são especialmente sensíveis às diferenças no cheiro que atingem ambas as antenas – as narinas da mosca – e podem usar essa informação para localizar um macho. Além disso, os investigadores determinaram o mecanismo através do qual um único neurónio aumenta o contraste esquerda-direita, permitindo uma capacidade aprimorada de localizar a direção angular do macho com precisão, apesar da pequena diferença espacial entre as antenas. 

As descobertas ilustram como uma única sensação – o cheiro de um macho – é dividida em diferentes aspetos dentro do cérebro, cada um codificado por um caminho neural dedicado. Os resultados fornecem uma descrição abrangente de como um único estímulo é decomposto pelo cérebro na resolução sináptica, com um diagrama completo de conetividade e funcionalidade. A capacidade do cérebro de interpretar o ambiente circundante baseia-se na decomposição de cada estímulo em componentes elementares e na atribuição de significados a cada um deles.

Por exemplo, a velocidade do movimento do macho, sua localização no espaço ao redor da fêmea e a qualidade do macho enquanto potencial parceiro de acasalamento são computadas separadamente no cérebro, e cada uma pode levar a uma resposta diferente. Por exemplo, enquanto que o caminho ligado à qualidade do macho pode provocar uma resposta sexual na fêmea, o mesmo não acontece para o caminho que representa o movimento do macho.

Com base no mapa do conectoma, o grupo de Cambridge colocou a hipótese de que certas células neurais, além do olfato, integravam também informações gustativas. “Notavelmente, descobriram que ativando artificialmente, e em simultâneo, os neurónios gustativos e olfativos aumentava a recetividade feminina. Através de uma série de experiências, o nosso grupo na Fundação Champalimaud demonstrou que os neurónios gustativos identificados exibiam forte sensibilidade à estimulação com os órgãos genitais das moscas machos.” explica o investigador pós-doutorado Daniel Münch. “Estas descobertas vêm reforçar a teoria, formulada com base no mapa do conectoma pelos nossos colaboradores em Cambridge”, conclui o investigador principal Carlos Ribeiro.

Esta compreensão avançada da resposta neural a um único estímulo sensorial contribui para o esforço científico no sentido de explicar completamente como funciona o cérebro saudável. Isso é necessário para entender melhor o que acontece nos cérebros doentes ou feridos. Olhando para o futuro, esta abordagem servirá como ponto de referência para trabalhos futuros em espécies com cérebros maiores, que é também um dos focos para futuros conjuntos de dados revelados no mapa de conexões cerebrais.

Artigo original aqui.
Adaptado do texto produzido pela Equipa LMB News MRC Laboratory of Molecular Biology, Cambridge Biomedical Campus, Reino Unido.
Crédito da imagem: MRC Laboratory of Molecular Biology
Título: “Uma exploração às vias neurais da Drosophila revela como as moscas usam o olfato para determinar a identidade e posição de outras moscas”.
Texto editado e traduzido por Catarina Ramos, Co-coordenadora da Equipa de Comunicação, Eventos & Outreach da Fundação Champalimaud.
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