18 Novembro 2025
De portas abertas além fronteiras
20 Anos, 20 Histórias
— Acolher internacionais com Diego Carrasco
18 Novembro 2025
20 Anos, 20 Histórias
— Acolher internacionais com Diego Carrasco
Quando, há 15 anos, Diego Carrasco aterrava em Lisboa pela primeira vez, a cidade parecia uma aguarela: telhados terracota a brilhar sobre o rio Tejo. “Lembro-me de ver os telhados do avião”, diz. “Era tão romântico. Pensei: esta cidade é tão antiga e, ao mesmo tempo, tão nova”.
Estávamos em 2010 e Carrasco, um jovem médico colombiano, tinha sido selecionado ao abrigo de um programa governamental que convidava médicos latino-americanos a trabalhar na Europa. “Senti-me bem-vindo desde o início, porque foi o próprio governo que me abriu as portas”.
Um receção colorida
O começo da história de Diego na Fundação Champalimaud (FC) foi na investigação de Oncologia de Sistemas, para mais tarde se dedicar à oncologia clínica e à medicina interna. “O que mais me impressionou não foi a tecnologia ou o edifício; foi a atmosfera”, recorda. “Quando cheguei, a primeira coisa que vi foram todas as bandeiras na entrada principal. Para mim, como estrangeiro, aquilo dizia tudo. Era um lugar verdadeiramente internacional”.
Esse sentimento de pertença rapidamente se enraizou. “No laboratório, falávamos mais inglês do que português”, ri-se. “Havia pessoas de todo o mundo e a Fundação Champalimaud fazia questão de as reunir. As Happy Hours de sexta-feira foram uma novidade para mim. Comida, vinho, muita conversa. Foi aí que me senti realmente parte da comunidade”.
Encontrar a sua voz
As dificuldades linguísticas são comuns quando se muda para um novo país e, para Diego, o português veio gradualmente, embora não sem esforço. “Na América Latina, crescemos a ouvir o português do Brasil, que é aberto, melódico. O português europeu é mais fechado, mais gutural. “Demorei algum tempo a adaptar-me”, conta. “Ao fim de alguns meses, comecei a compreender. Agora, passados quinze anos, falo fluentemente. Mas os meus doentes ainda perguntam: ‘Doutor, fala tão bem português… mas é de onde?’” Sorri. “Nunca se perde o sotaque. E talvez isso seja uma coisa boa”.
Entre dois mundos
“Na América Latina, desde que acordas, tens de sobreviver”, reflete Diego. “Isso molda a tua capacidade de adaptação e de encontrar soluções. Por isso, quando chegas a um país tão seguro como Portugal, é diferente. Os problemas aqui não são os mesmos. Aquilo que muitos entendem como um problema é, muitas vezes, uma oportunidade para mudar algo”.
E acrescenta: “As pessoas que deixam os seus países de origem e se mudam para o estrangeiro tendem a ver a vida de forma diferente. Costumo dizer que, para os portugueses, o chip começa a funcionar quando se atravessa a fronteira. Redescobrem a sua força. Talvez seja por isso que este país sempre tenha sido um de exploradores”.
Construir pontes
Este espírito explorador, acredita, continua vivo na FC na sua abertura, na sua abertura, liberdade e diversidade cultural. “Encontramos pessoas de todo o lado, todas a trazer ideias e experiências diferentes. Esta diversidade torna a ciência melhor.”
Inspirado por esse mesmo espírito de ligação, Diego criou recentemente uma empresa, a Médicos En Portugal, para ajudar médicos da América Latina que queiram vir trabalhar para Portugal. “Ajudamo-los em todo o processo burocrático, reconhecimento profissional, língua, tudo”, explica. “Quando passei por isso, o processo podia demorar até quatro anos. Agora conseguimos fazê-lo em apenas um”.
Para ele, não se trata apenas de logística, mas de esperança. “Portugal precisa de mais médicos, e a América Latina tem muitos profissionais que sonham com novas oportunidades. Ajudar ambos os lados é algo de que me orgulho”.
Música = Felicidade
Além de ajudar a trazer médicos latino-americanos para Portugal, Diego gostaria também de partilhar algo da Colômbia: “Felicidade”, diz, sorrindo. “E música. A música é a forma como nos mantemos felizes”. Faz uma pausa e acrescenta: “Gosto imenso do fado. Acho que é uma expressão artística incrível, que fala profundamente da alma e da saudade portuguesa. Mas, como colombiano, trago também comigo um bocadinho da alegria e do ritmo do Caribe, da minha terra. A música, para mim, é uma forma de encontro – entre a melancolia do fado e a energia tropical da Colômbia – e talvez seja aí que se cria a harmonia mais bonita”.
Finalmente em casa
Quinze anos depois daquele primeiro voo sobre Lisboa, a história de Diego é uma história de pertença, não apenas a um lugar, mas a um propósito partilhado. “Quando chegas a um país novo, não é fácil”, diz. “Precisamos de pessoas que nos acolham, que confiem em nós. Na Fundação Champalimaud, encontrei isso”.
Num momento em que a Fundação Champalimaud celebra vinte anos de ciência e descoberta, a viagem de Diego serve como um lembrete do que a torna verdadeiramente especial: uma comunidade construída com base na abertura, curiosidade e na coragem de explorar para além das fronteiras. “Este é um país com boa comida, boas pessoas e um bom coração”, afirma. “E na Fundação Champalimaud, sente-se isso desde o primeiro dia”.
Diego Carrasco, Médico de Medicina Interna no Centro Clínico da Fundação Champalimaud e no Botton-Champalimaud Pancreatic Cancer Centre
Coleção 20 Anos, 20 Histórias completa aqui.