Como reconhecimento do seu trabalho, o projeto FAITH foi nomeado para o ".eu Web Award" na categoria "Better World". Os ".eu Web Awards" são uma competição online, lançada em 2014, e concebida para reconhecer os melhores websites que utilizam as extensões .eu, .ею ou .ευ, em seis categorias distintas. Os finalistas com as maiores pontuações do júri serão anunciados como vencedores durante a cerimónia de atribuição dos prémios, que terá lugar no dia 16 de outubro de 2021.
Para assinalar esta nomeação e dar mais informações sobre este projeto inspirador, reunimos alguns dos membros da equipa FAITH para apresentar o seu trabalho, objetivos e o papel que desempenham na Fundação Champalimaud e na comunidade em geral.
A equipa FAITH, na Fundação Champalimaud, é composta, entre outros, por:
- Albino Oliveira-Maia - Investigador Coordenador / Investigador Principal Local.
- Pedro Ferreira - Estudante de doutoramento
- Raquel Lemos - Pós-doutorada
- Sílvia Almeida - Psicóloga
- Sofia Marques - Coordenadora
Podem falar-nos um pouco sobre o projeto FAITH e os resultados que prevêem alcançar?
O projeto FAITH visa aperfeiçoar o conhecimento em duas áreas estratégicas: cancro e saúde mental. A evidência de tendências negativas na saúde mental de doentes que se submeteram a tratamento oncológico é habitualmente integrada no processo de tomada de decisão clínica para melhorar a qualidade de vida e cuidados continuados do doente, com base na sua avaliação psicológica e nas respostas a questionários validados. Com o FAITH, especificamente, iremos monitorizar os doentes, após o término dos seus tratamentos oncológicos, em relação aos marcadores de depressão / risco de depressão, e usaremos esses e outros dados - incluindo uma app, uma pulseira inteligente fácil de utilizar e marcadores de inflamação - para validar um modelo preditivo para a detecção eficaz precoce da depressão e, portanto, possibilitando a gestão atempada dos doentes em risco.
Este projeto irá aumentar o impacto social da Fundação Champalimaud, fortalecendo os laços entre as atividades clínicas e de investigação que irão contribuir positivamente para o conhecimento clínico e trazer novos insights sobre a neuropsiquiatria e o cancro.
Qual é o papel da Fundação Champalimaud no projeto FAITH?
A equipa da Fundação Champalimaud está envolvida no projeto FAITH enquanto parceiro clínico e de investigação, com experiência tanto em saúde mental quanto em cancro. Também contribuirá para a concepção e implementação do estudo. Além disso, conduzirá pesquisas baseadas na análise das ‘assinaturas’ dos movimentos dos doentes que participam no projeto, enquanto marcadores de depressão.
O consórcio FAITH é composto por diferentes organizações, com experiência em áreas diversas, desde ciência médica, tecnologia e dados, até fatores humanos e design centrado no utilizador. Como é que o Centro Clínico Champalimaud (CCC) se envolveu no FAITH e qual a mais valia que pode trazer para o projeto enquanto centro especializado em investigação em cancro e neuropsiquiatria?
Na verdade, o nosso envolvimento no projeto foi iniciado por um ex-doente, ele próprio um investigador e académico de renome que, conhecendo a expertise do centro, nos abordou para participarmos na elaboração da proposta do projeto.
O CCC tem uma larga experiência no desenvolvimento de investigação em cancro e neuropsiquiatria, estando já envolvido em inúmeros estudos clínicos e dotado da estrutura e instalações necessárias para a realização de projetos de investigação complexos, com participação humana, desde o seu desenho e avaliação ética até à sua operacionalização, diariamente estabelecendo a ligação entre doentes, médicos e investigadores. Abriga equipas multidisciplinares, que colocam o foco no doente, oferecendo o mais elevado nível de atendimento, com base na tecnologia mais avançada, com uma atenção especial para a prática e investigação clínica relacionada com cancro. Esta experiência, do ponto de vista científico, clínico e operacional, deverá constituir uma mais-valia para o Consórcio.
O trabalho do Centro Clínico Champalimaud assenta numa abordagem multidisciplinar da medicina. Como aplicam esta abordagem multidisciplinar na vossa investigação? Quais são as vantagens?
A nossa equipa inclui profissionais de saúde mental e outras especialidades clínicas, como psiquiatras, psicólogos, oncologistas, radiologistas, nutricionistas e enfermeiros, bem como uma vasta equipa de investigadores, como neurocientistas, engenheiros biomédicos, especialistas em biomecânica, cientistas computacionais, entre outros. O objetivo do Centro Champalimaud é fazer descobertas científicas pioneiras e traduzi-las em soluções que melhorem a qualidade de vida dos doentes, fornecendo um atendimento clínico de excelência.
Recentemente, cada vez mais ênfase é colocada na importância da saúde mental. Podem explicar-nos brevemente o que é a depressão e porque é que, no vosso ponto de vista, esta é tão difícil de avaliar? Adicionalmente, a depressão ou o bem-estar mental são mensuráveis?
A depressão é uma das condições de saúde mental mais comuns. Caracterizada por uma ampla gama de sintomas cognitivos, afetivos e/ou somáticos, tem um impacto significativo em áreas importantes da nossa vida diária. Doentes com depressão frequentemente manifestam sentimentos persistentes de tristeza, falta de esperança, diminuição da capacidade de pensar ou de se concentrar, diminuição do interesse ou prazer e fadiga, na maior parte do dia, quase todos os dias. A depressão pode ser mais difícil de avaliar num ambiente oncológico, pois alguns sintomas podem na verdade representar uma resposta normal quando um doente recebe más notícias, está em tratamento, a sentir dor ou a enfrentar, continuamente, uma realidade potencialmente fatal. É possível medir a depressão e outros transtornos afetivos através de instrumentos validados, nomeadamente entrevistas estruturadas e questionários. Ou seja, instrumentos previamente estudados e avaliados cientificamente, com capacidade de medir com rigor e auxiliar na diferenciação da depressão e sua gravidade, com base em valores específicos previamente definidos.
Uma das áreas de investigação do Centro Clínico Champalimaud é o cancro. Existem tipos de cancro nos quais o Centro está mais focado, no que respeita à investigação? Qual é, especificamente, o teor da pesquisa que realizam nessas áreas?
O Centro Clínico Champalimaud está estruturado em Unidades Multidisciplinares de Patologia, sete delas dedicadas ao tratamento e pesquisa dos principais tipos de cancro: atualmente essas unidades são a Unidade de Mama, a Unidade de Pulmão, a Unidade de Urologia, a Unidade de Digestivo, a Unidade de Ginecologia, a Unidade de Hemato-oncologia e Unidade de Dermatologia. O nosso foco de investigação está relacionado com a compreensão da influência das características psicológicas e dos transtornos afetivos, como a depressão, na qualidade de vida, a curto e longo prazo, dos doentes oncológicos.
Como sabemos, o cancro pode atingir diferentes partes e órgãos do corpo, resultando em diferentes tratamentos, progressão da doença, etc. Existem tipos de cancro mais propensos a estar relacionados com o aparecimento da depressão?
Foi demonstrado na literatura que o local primário do cancro é um dos fatores que contribuem para as taxas de depressão, sendo a depressão mais comum em doentes com cancro do pulmão ou do pâncreas. Embora ainda não esteja comprovado, acredita-se que a presença de inflamação no cancro, que difere em função do subtipo de cancro, contribui para a depressão. Neste projeto, também exploraremos os mecanismos biológicos subjacentes à ocorrência de depressão em sobreviventes de cancro do pulmão.
Pode a saúde mental influenciar o sucesso dos tratamentos oncológicos? Na vossa opinião, qual a importância do estado de saúde mental dos sobreviventes de cancro após o tratamento oncológico?
Embora não tenhamos fortes evidências científicas de que a depressão e outros transtornos mentais podem afetar a progressão do cancro, a sua influência na adesão ao tratamento e no acesso aos serviços de saúde já está bem demonstrada. Também temos conhecimento de estudos anteriores que mostram que os sintomas depressivos podem afetar negativamente a qualidade de vida e as taxas de sobrevivência a longo prazo.
Falem-nos um pouco sobre os ensaios que serão realizados no Centro Clínico.
Os nossos principais objetos de estudo são o cancro e as doenças mentais. No nosso centro, duas unidades estarão envolvidas neste estudo: a Unidade de Neuropsiquiatria, uma unidade clínica para tratamento integrado de doenças oncológicas e neuropsiquiátricas e que desenvolve atividade de investigação translacional; e a Unidade de Pulmão, composta por especialistas em diagnóstico e tratamento de doenças oncológicas pulmonares.
Os doentes serão recrutados na Unidade de Pulmão e posteriormente selecionados e acompanhados por profissionais de saúde mental da Unidade de Neuropsiquiatria.
A Inteligência Artificial (IA) é um dos conceitos e ferramentas utilizadas no projeto FAITH. Como centro clínico, como vêem as aplicações de IA na área médica? Quais são os recursos essenciais necessários para tornar uma máquina ou dispositivo, utilizando IA em saúde, totalmente confiável?
A Inteligência Artificial (IA) pode revolucionar a saúde, assim como no passado aconteceu com a introdução na vida quotidiana, da energia a vapor, a eletricidade, os computadores pessoais, para nomear apenas alguns. Embora a IA esteja prestes a revolucionar a área de saúde, ainda estamos à espera do impacto há muito prometido, mas que é atualmente ainda insuficiente. Para que a integração da IA seja suave, esta precisa ser totalmente validada, com dados robustos que apoiam a sua fiabilidade, com testes e análises não menos rigorosos do que o aplicados a quaisquer outros potenciais avanços clínicos. Além disso, a implementação de IA no setor de saúde deve acontecer por meio de interfaces amigáveis, tanto para médicos quanto para doentes, para garantir a integração direta com a infraestrutura clínica pré-existente.
Consideram que os conceitos do projeto FAITH podem ser aplicáveis a outros campos da ciência médica? Como vêem uma colaboração futura entre prestadores de serviços de saúde e futuras máquinas?
Os conceitos do FAITH podem ser aplicáveis a qualquer campo da ciência médica onde a ambição seja desenvolver ferramentas de diagnóstico assistencial e monitorização de doentes, e onde os resultados dos doentes são fruto da combinação de diferentes fatores relacionados com a saúde, como o sono, a atividade, nutrição e a própria voz e visão do doente sobre o seu estado, tratamento e situação, bem como o seu papel no estudo. Usar a IA para explorar esses fatores, que são frequentemente complexos, interligados e difíceis de analisar, aos olhos dos médicos, pode ser uma solução útil, não apenas para o seu propósito principal (isto é, prever flutuações de humor e início de depressão), mas também para fornecer informações sobre questões não respondidas, de várias outras condições médicas, como as exploradas pelo FAITH. Portanto, acreditamos que a colaboração entre prestadores de saúde e máquinas, ou seja, o aumento do uso de dispositivos com "machine learning", tem um grande potencial, onde o corpo clínico passa a dispor de poderosos sistemas de apoio à decisão clínica, como os que esperamos gerar com projecto FAITH.
Editado por John Lee, content developer da Fundação Champalimaud.
Para saber mais
As instituições envolvidas no projecto FAITH são:
Centro Champalimaud | Lisboa, Portugal
Hospital G.U. Gregorio Marañón | Madrid, Espanha
UPMC Whitfield | Waterford, Irlanda
Para visitar o site do FAITH, aceda a este link.
Para seguir o projecto nas redes sociais:
https://twitter.com/h2020_faith/?lang=bg
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Para votar no FAITH para os ".eu Web Awards" (a votação termina a 5 de agosto de 2021) aceda a este link.
Para saber mais sobre o projecto FAITH e as instituições envolvidas, assista a este vídeo: