Durante a pandemia de COVID-19, rapidamente se tornou evidente que a gravidade da doença está fortemente correlacionada com a idade. Mas a idade não é o único factor. Muitas pessoas mais idosas foram poupadas à doença grave enquanto muitas pessoas, mais novas, morreram da doença. Uma equipa internacional de cientistas, da qual faz parte Eduardo Moreno, do Centro Champalimaud em Portugal, decidiu investigar este fenómeno.
“Nós estudamos como o corpo controla a qualidade das suas células, um processo vital que ajuda a manter a saúde dos tecidos'', explica Moreno. “Já tínhamos previamente identificado um conjunto de proteínas, situadas à superfície das células, que funcionam como ‘marcadores de aptidão’ [fitness] das mesmas. Chamámos de ‘proteínas Win’ [vencedoras] aos marcadores positivos e de ‘proteínas Lose’ [perdedoras] aos marcadores negativos, cuja presença significa que a é menos apta.”
Quando a pandemia começou, a equipa de Moreno estava a estudar a forma como a expressão das proteínas Lose se altera, no organismo, com a idade. Porém, a variabilidade dessa expressão era muito grande: dentro da mesma faixa etária, algumas pessoas tinham níveis substancialmente mais elevados destas proteínas do que outras.
“Este resultado despertou a nossa curiosidade”, diz Moreno. "Por isso perguntámos-nos, poderia esta variabilidade dos níveis das proteínas 'Lose' explicar por que é que o prognóstico da COVID-19 varia tanto de indivíduo para indivíduo?"
Para responder a esta pergunta, Moreno juntou-se a colegas da Suécia e da Dinamarca. Recolheram amostras pulmonares e nasofaríngeas e analisaram os níveis de proteínas Lose utilizando a PCR. Os seus resultados, publicados na revista EMBO Molecular Medicine, revelaram-se surpreendentes.
“O nível de proteínas Lose medido através deste simples teste acabou por constituir um melhor marcador de prognóstico individual do que qualquer outro, incluindo a idade”, salienta Moreno.
Os cientistas estão agora a estudar o mecanismo subjacente ao fenómeno, que permanece desconhecido. Contudo, a equipa acredita que a sua descoberta pode ter aplicações clínicas imediatas.
“Este novo marcador poderá contribuir para determinar se um doente que acabou de contrair a doença precisa de monitorização mais apertada ou de intervenções precoces. Também poderia ter um benefício colateral: o de ajudar a convencer as pessoas que ainda não estão vacinadas, e que têm altos níveis de proteínas Lose, a vacinarem-se”, sugere o investigador.
Segundo Moreno, o surpreendente resultado tem implicações ainda mais latas. “Nas últimas décadas, descobrimos múltiplos processos nos quais a aptidão das células desempenha um papel fulcral, tais como o envelhecimento e o cancro. O nosso trabalho abre assim novos caminhos de investigação sobre a relação entre a aptidão das células e as doenças infecciosas”, conclui.
Por Liad Hollender, Science writer e editora da equipa de Comunicação, Outreach e Eventos do Centro Champalimaud.
Traduzido por Ana Gerschenfeld, Health&Science writer da Fundação Champalimaud.