19 Março 2025

Poderá o microbioma dar indicações sobre o risco de desenvolver cancro colorretal e a sua evolução?

No mês dedicado à Sensibilização para o Cancro Colorretal (CCR), teve início o estudo clínico CARE-CRC, que tem por principal objetivo identificar os biomarcadores do microbioma intestinal associados ao CCR, prognóstico e resposta ao tratamento, com vista a uma melhoria na saúde dos doentes e ao desenvolvimento de estratégias de saúde pública.

Poderá o microbioma dar indicações sobre o risco de desenvolver cancro colorrectal e a sua evolução?

Coordenado pela Professora Ana Santos Almeida, investigadora principal de um laboratório translacional da Fundação GIMM - Gulbenkian Institute for Molecular Medicine (GIMM-CARE), este estudo irá decorrer na Fundação Champalimaud, em colaboração com o Dr. José Azevedo, cirurgião do Grupo de Cancro Colorretal da Unidade de Digestivo do Centro Clínico Champalimaud, e no Hospital de Santa Maria, com a participação dos oncologistas Professor Luís Costa e Dr. André Mansinho. 

O desafio do Cancro Colorretal em Portugal: A influência do estilo de vida e o potencial do microbioma na prevenção e diagnóstico

O cancro colorretal representa um desafio significativo para a saúde pública em Portugal, sendo o tipo de cancro com maior incidência e a segunda principal causa de morte por cancro no país. De acordo com dados recentes, registam-se mais de 10.500 novos casos anuais de CCR, resultando numa média de 12 mortes por dia. Nos últimos anos, tem-se observado um aumento preocupante da incidência e mortalidade por CCR nos jovens, sendo que, no espaço de 10 anos, a frequência de “early-onset colorectal cancer” (EoCRC) passou de 5% para 10% de todos os novos casos de CCR. Até 2030, prevê-se um aumento superior a 140%. 

Apenas 25% dos casos de CCR apresentam história familiar, sugerindo que fatores ambientais e de estilo de vida desempenham um papel significativo. Dietas pobres em fibra e ricas em gorduras saturadas e carnes processadas, obesidade, consumo de álcool, sedentarismo, stress e inflamação gastrointestinal crónica são apontados como responsáveis por 70–90% do risco de CCR. Segundo o World Cancer Research Fund, 47% de todos os casos de CCR poderiam ser prevenidos com mudanças no estilo de vida, nomeadamente na dieta, bem como com um aumento da atividade física. Estes fatores estão também fortemente associados a alterações no microbioma intestinal, que difere significativamente entre doentes com CCR e indivíduos saudáveis. O microbioma intestinal, a comunidade de mil milhões de microrganismos que habitam o intestino humano, pode modular a progressão tumoral através da produção de metabolitos (substâncias resultantes do metabolismo) que influenciam respostas imunitárias ou criam ambientes anti-tumorais, tornando-se assim um alvo promissor para a deteção e prevenção do CCR.

Usar o microbioma para desenvolver ferramentas de diagnóstico precoce e estratégias preventivas para o Cancro Colorretal

O estudo CARE-CRC irá recrutar 400 doentes, com idades compreendidas entre os 40 e os 74 anos, com diagnóstico recente de CCR, que ainda não tenham iniciado tratamento. Tendo por base amostras fecais recolhidas no momento do diagnóstico, imediatamente após o tratamento e três anos depois, o microbioma intestinal será analisado por sequenciação metagenómica, que permitirá identificar correlações entre a composição microbiana e os resultados clínicos, como respostas ao tratamento e sobrevivência.

Com esta estratégia pretende-se desenvolver uma ferramenta de diagnóstico não invasiva, identificando biomarcadores que permitam melhorar a deteção precoce do CCR, personalizar tratamentos e reduzir os custos de saúde. 

Assente numa plataforma de Inteligência Artificial, os resultados fornecerão ainda insights sobre a interação entre o estilo de vida, dieta e alterações do microbioma na progressão do CCR, podendo conduzir ao desenvolvimento de  estratégias preventivas personalizadas e, em última instância, a melhores resultados terapêuticos.

Mais informações sobre o estudo

https://clinicaltrials.gov/study/NCT06734156 
https://care.gimm.pt/  

Equipa de trabalho

Equipa de investigação GIMM

O Laboratório Translacional de Microbioma na Saúde e Doença do GIMM-CARE é constituído por uma equipa interdisciplinar, dinâmica e altamente colaborativa de microbiologistas clínicos, biólogos computacionais, nutricionistas, e gastroenterologistas. O laboratório dedica-se a explorar o potencial do microbioma para revolucionar a área terapêutica do cancro colorretal. A nossa missão é desenvolver ferramentas inovadoras de diagnóstico e bioterapêuticas baseadas no microbioma para promover a saúde. 

Grupo de Cancro Colorretal - Unidade de Digestivo do Centro Clínico Champalimaud

Desde 2013, o Grupo de Cancro Colorretal - Unidade de Digestivo do Centro Clínico Champalimaud está focado no tratamento do cancro do cólon e do reto, adotando uma abordagem multidisciplinar. A equipa utiliza técnicas avançadas de radioterapia, radiologia e cirurgia robótica de alta precisão, com vista a minimizar o impacto na qualidade de vida dos doentes mantendo o excelente resultado oncológico. Com o objetivo de desenvolver opções terapêuticas inovadoras e que se traduzem em melhores resultados para os doentes, o grupo trabalha de forma colaborativa com investigadores da Fundação Champalimaud bem como com grupos externos. 

Adaptado de um texto preparado pela Equipa de Comunicação da Fundação GIMM. Traduzido por Catarina Ramos, Co-coordenadora da equipa de Comunicação, Eventos & Outreach da Fundação Champalimaud.
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