14 Outubro 2021

Saúde digital e medicina centrada no doente - O que devemos saber?

No dia 8 de outubro, a Unidade de Mama da Fundação Champalimaud acolheu convidados, palestrantes e perto de uma centena de participantes na edição de 2021 do seu já tradicional Open Day.

Saúde digital e medicina centrada no doente - O que devemos saber?

Este evento, um dos primeiros nos últimos 18 meses a receber participantes presenciais para além dos que assistiram online, tinha como questão central: o que precisamos saber sobre saúde digital e medicina centrada no doente?

Para a seleção do tema do Open Day deste ano, nas palavras do cirurgião de mama do Centro Clínico Champalimaud Pedro Gouveia, pesou a necessidade de “responder a algumas das principais questões que os sistemas de saúde, doentes e equipas médicas enfrentam com as novas tecnologias emergentes no espaço da saúde digital”. Adicionalmente, referiu que, na medicina “a convergência da inteligência humana e artificial está a possibilitar que os doentes processem os seus próprios dados para promover a saúde; ou, quando perante uma doença como o cancro, pode ter o potencial de prever eventos adversos que, em última análise, poderão ter um grande impacto na forma como decorre o tratamento, como seja na quimioterapia. Para além disso, a terapia digital cognitiva pode melhorar a qualidade de vida e ajudar os doentes a retomar a vida normal após eventos muito stressantes como é o caso da doença oncológica.”

Neste Open Day, aos especialistas da Unidade de Mama juntaram-se vários palestrantes convidados. Entre estes esteve Pedro Pereira Rodrigues, Diretor do Programa de Doutoramento em Ciência de Dados em Saúde, e investigador do grupo AI4Health do CINTESIS, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Sobre a definição de inteligência artificial (IA) e a sua importância na medicina moderna, Rodrigues referiu que a “IA envolve sistemas desenhados por humanos para atingir objetivos complexos que envolvem percepção, raciocínio, aprendizagem e ações, num mundo virtual ou físico. Por serem, na sua essência, sistemas de aprendizagem, as suas aplicações na saúde, atuais e futuras, beneficiarão dos dados de saúde recolhidos diariamente em contexto real mas, simultaneamente, devem levar em consideração os possíveis vieses existentes nesses conjuntos de dados, para evitar a propagação automática de quaisquer processos de decisão discriminatórios.”

A Presidente da Fundação Champalimaud, Leonor Beleza, deu as boas-vindas aos oradores e convidados, agradeceu aos participantes presentes no auditório da Fundação Champalimaud ou que assistiram remotamente, e explicou que o Open Day da Unidade de Mama teve como objetivo explorar como a IA e outros processos autónomos ou automáticos podem ser usados no contexto específico de doença oncológica, destacando que os aspectos psicológicos implicados nestas novas modalidades podem ser tão importantes quanto os fisiológicos.

(8 - 28 minutos) Após uma breve introdução da Diretora da Unidade de Mama do Centro Champalimaud, Fatima Cardoso, assistimos à apresentação de Pedro Pereira Rodrigues sobre como a inteligência artificial pode mudar a medicina e os cuidados de saúde, onde fez questão de discutir as limitações do uso da IA ​​na área da saúde. Longe de ser pessimista, a ideia de explorar essas limitações foi garantir o melhor uso possível destas novas ferramentas, sem elevar as expectativas para além do razoável. Muito trabalho precisa ainda ser feito, tanto em termos de melhorias tecnológicas, quanto na forma como são utilizados os dados recolhidos.

(28 - 51 minutos) Seguiu-se a apresentação de Timo Schinkothe, da Universidade de Colónia, sobre como as plataformas electrónicas podem melhorar os "patient reported outcomes". Com base na sua própria experiência no desenvolvimento e uso do sistema CANKADO, explicou a importância de ouvir os doentes, de aprender a fazer as perguntas certas e entender as respostas que os doentes dão. Esta tecnologia pode ajudar os doentes a detetar e descrever os seus sintomas, e identificar quais os que são importantes reportar, mediante a utilização de um diário personalizado e inteligência artificial.

(51 - 1h55) Terminadas as apresentações, acompanhámos a discussão em formato de mesa redonda, sobre questões como “Quais os benefícios que esta tecnologia pode ter em termos de cuidados de saúde?”, se “os programas de rastreio de cancro podem ser substituídos por métodos de aprendizagem de máquina”, ou “Como podemos tornar esta nova linguagem altamente tecnológica compreensível e acessível aos doentes?” 

Para além dos membros da equipa da Unidade de Mama e do Conselho de Ética da Fundação Champalimaud, Paula Martinho, estiveram também presentes Maria de Belém Roseira, ex-Ministra da Saúde; Marina Borges, Serviço de Planeamento e Apoio à Gestão do IPO do Porto, e o já referido Pedro Pereira Rodrigues. 

Tivemos também o privilégio de receber a sobrevivente de cancro de mama, Paula Viana, do Instituto Politécnico do Porto, que nos trouxe a visão única da forma como estes processos são vistos pelos doentes. 

As últimas perguntas do dia vieram da audiência, virtual e presencial, onde destacamos a intervenção de uma enfermeira do Centro Clínico Champalimaud que expressou algumas preocupações relacionadas com a capacidade dos doentes compreenderem e utilizarem estas novas tecnologias de forma independente, sem colocar uma grande pressão sobre as equipas clínicas. Fátima Cardoso descreveu este testemunho como 'uma boa maneira de encerrar o painel de discussão'', resumindo que “é importante entender que a Inteligência Artificial não é uma máquina que virá substituir médicos e enfermeiros, mas antes uma máquina que irá ajudar médicos e enfermeiros a prestar melhores cuidados de saúde.”

No final do evento, a Diretora da Unidade de Mama do Centro Clínico Champalimaud, Fátima Cardoso, elogiou o contributo dado por todos os palestrantes e painelistas, tendo expressado um agradecimento especial a todos os participantes, presenciais e virtuais. Terminou a sessão pública com uma nota de esperança, sobre como a saúde digital poderá melhorar a comunicação entre doentes com cancro e os profissionais de saúde e ajudar na melhoria contínua da qualidade do cuidado prestado.

No mesmo dia, a Unidade de Mama já havia organizado um workshop virtual sobre o Projecto Europeu BOUNCE - Predicting Effective Adaptation to Breast Cancer to Help Women BOUNCE Back - que está a promover a consciencialização para a saúde mental em doentes com cancro da mama e a utilizar o machine learning para identificar os fatores que afetam o seu bem-estar a longo prazo.

Visite a página de YouTube da Fundação Champalimaud para assistir à gravação do Open Day da Unidade de Mama.

Lista de oradores e painelistas do Open Day da Unidade de Mama

Dr. Fatima Cardoso, Méd. - Diretora da Unidade de Mama, Fundação Champalimaud
Prof. Maria João Cardoso, Méd., PhD - Diretora de Cirurgia de Mama, Unidade de Mama, Fundação Champalimaud
Dr. Berta Sousa, Méd. - Oncologista Médica, Unidade de Mama, Fundação Champalimaud
Maria de Belém Roseira, Advogada - Ex-ministra da Saúde
Paula Martinho da Silva, Advogada - Comissão de Ética, Fundação Champalimaud
Prof. John Krakauer, PhD - Cognitive-Motor Interface Lab, Champalimaud Research
Prof. Timo Schinkothe, Méd., PhD - CANKADO & Clinical eHealth Research Group, Ludwig-Maximilians University (LMU)
Prof. Marina Borges, PhD - Serviço de Planeamento e Apoio à Gestão, Grupo de Investigação em Gestão, Resultados e Economia em Cuidados de Saúde, IPO Porto
Dr. Pedro Gouveia, Méd. - Cirurgião de Mama, Unidade de Mama, Immersive Lab, Fundação Champalimaud
Prof. Pedro Pereira Rodrigues, PhD - Programa Doutoral em Ciências de Dados de Saúde, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
Paula Viana, PhD - Politécnico do Porto, INESC TEC

Por John Lee, content developer da Fundação Champalimaud.
Digital Health and Patient-Centred Medicine – What Should We Know?
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