01 Agosto 2023

Zoom-In on Champalimaud - Terceira Edição - Número 6

Do Dia do Alzheimer (21 de setembro) ao Dia do Lixo Zero (30 de março), quase todos os dias são dias (inter)nacionais! E, como na Fundação Champalimaud não faltam pessoas com um vasto leque de experiências, interesses e conhecimento, para a 3ª Edição de 'Zoom-In' decidimos desafiar um membro da nossa comunidade com uma ligação especial à data que assinalamos.

Susana Simões - International Lung Cancer Day

Desde 2012, no 1º de agosto é assinalado o Dia Mundial do Cancro de Pulmão. Nesse dia, a comunidade internacional de saúde pulmonar mobiliza-se para a promoção da literacia em saúde, em particular sobre os fatores de risco, sintomas, diagnóstico e tratamento da doença.

A Dra. Susana Simões, da Unidade do Pulmão da Fundação Champalimaud, juntou-se a nós para uma conversa sobre esta doença, responsável pelo maior número de mortes por cancro.

Susana é uma pneumologista especializada no diagnóstico e tratamento do cancro do pulmão, à prevenção e controlo do tabagismo e também ao tratamento da cessação tabágica. Atualmente colabora em vários ensaios clínicos de cancro do pulmão e é aluna de doutoramento na Nova Medical School.

O dia 1 de agosto é o Dia Mundial do Cancro do Pulmão, sendo um dos principais objetivos a sensibilização para esta doença. Quais são os principais aspetos do cancro do pulmão (e de como evitá-lo) que devemos ter presentes?

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o cancro do pulmão é o segundo cancro mais comum em todo o mundo e é a causa número um de mortalidade por cancro.

Existe uma estreita, e bem documentada, ligação com o uso do tabaco, que é um dos principais fatores de risco para o cancro de pulmão, mas é excessivamente simplista dizer que esse é o único fator. Na verdade, a grande maioria dos fumadores de longa data nunca terá cancro de pulmão. O risco desta doença é menor naqueles que nunca fumaram, mas a incidência entre essa população está a aumentar de forma preocupante, especialmente entre as mulheres. Outros fatores, como a história familiar, o estilo de vida e a exposição a certos carcinogénicos e a outros produtos químicos ambientais (especialmente amianto) também podem afetar a probabilidade de desenvolver a doença.

Como acontece com a maioria dos cancros, o diagnóstico precoce é crucial. O facto de a taxa de sobrevida ser relativamente baixa nos doentes com cancro de pulmão reflete a grande percentagem de doenças diagnosticadas em fase localmente avançada ou metastática (75%) e, nesses estádios, a sobrevida aos 5 anos é de 6%, enquanto que nos casos em que a doença está mais localizada a sobrevida de 5 anos é de aproximadamente 60%. Isto significa que quanto mais cedo a doença for detectada, maior a probabilidade de sobrevivência do doente. O atraso no diagnóstico do cancro de pulmão é reconhecidamente um importante fator de impacto no resultado global desta doença, por se tratar de uma doença silenciosa, muitas vezes assintomática até o final do seu desenvolvimento. É por isso que gostaríamos de poder contar com um programa de rastreio para indivíduos de alto risco, baseado em tomografias computadorizadas de baixa dose. 

Por estas razões, o Dia Mundial do Cancro do Pulmão tem como principal objetivo sensibilizar para a redução da mortalidade por esta doença através de programas destinados a educar a população sobre a mesma, assim como incentivar os profissionais de saúde, nomeadamente nos cuidados de saúde primários, a estarem mais atentos aos critérios clínicos para triagem e diagnóstico precoce.

Para aqueles que foram diagnosticados com cancro de pulmão, que conselhos daria?

A primeira coisa que diria é que um diagnóstico de cancro de pulmão não é uma sentença de morte. As opções de tratamento estão constantemente a melhorar a evoluir, com opções terapêuticas que vão desde à terapêutica-alvo, à imunoterapia, à quimioterapia e à radioterapia, em diferentes contextos.

Há também muitos ensaios clínicos em curso e por isso há que manter a mente aberta: pode haver uma excelente oportunidade para aceder a tratamentos promissores e inovadores que ainda não estão disponíveis na prática clínica de rotina. Falem com os vossos médicos para obter mais informações sobre ensaios clínicos que podem ser adequados para o seu caso.
Por último, mas igualmente importante: cuide-se. Tente manter um estilo de vida saudável, evite o tabaco (que afeta a eficácia do tratamento) e faça exercício regularmente. E não se esqueça da sua saúde mental também. Um diagnóstico de cancro do pulmão, como qualquer condição médica grave, pode causar muito stress e ansiedade, e por isso é muito importante fazer coisas de que goste. Passe tempo com amigos e familiares, desligue-se das notícias…!

Referiu brevemente opções de tratamento para cancro do pulmão na pergunta anterior, mas poderia dar um pouco mais informação sobre este ponto? 

Nos últimos anos, houve um rápido desenvolvimento na abordagem de tratamento do cancro do pulmão. Provavelmente, a maneira mais fácil de explicar isto é considerar dois principais grupos da doença e os seus respetivos objetivos de tratamento.

O primeiro grupo abrange doenças localizadas, ou seja, que estão confinadas a um pulmão, com ou sem envolvimento de gânglios linfáticos do mesmo lado. Nestes casos, a intenção do tratamento é curativa e por isso é imperativa a sensibilização para esta doença, na tentativa de reduzir a sua mortalidade global. Nos tumores localizados, o tratamento assenta em abordagens terapêuticas locais (cirurgia ou radioterapia), associadas ou não (antes, durante ou depois) ao tratamento sistémico, consoante a extensão local da doença com o objetivo de melhor controlar o risco de recidiva.

No segundo grupo de cancro do pulmão, a doença já se espalhou além do pulmão inicial e apresenta lesões secundárias (metástases) noutros órgãos, inclusivamente no outro pulmão. Quando a doença tem esta extensão sistémica, todo o corpo tem que ser tratado e os tratamentos localizados são insuficientes para controlar a evolução da doença. O objetivo deste tratamento é restringir a doença de forma a permitir ao doente manter a sua qualidade de vida. Uma das grandes evoluções no tratamento do cancro do pulmão foi desenvolvida para ajudar exatamente este grupo de doentes, dado que o tratamento atual se afasta cada vez mais da quimioterapia como a única opção. De facto, para a grande maioria dos tumores, o tratamento passará a ser escolhido com base nas características das células tumorais e no seu perfil genético, tornando o tratamento do cancro do pulmão cada vez mais personalizado.

Com os resultados destas novas estratégias terapêuticas, já é possível observar uma vida mais longa e com melhor qualidade em muitos casos. Todos os dias, damos passos para tornar o cancro do pulmão numa doença crónica com um prognóstico mais otimista para os nossos doentes.

A Unidade de Pulmão irá assinalar o Dia Mundial do Cancro do Pulmão em 2023?

Não iremos comemorar especificamente o Dia Mundial do Cancro do Pulmão, mas por coincidência acabamos de anunciar uma série de reuniões sobre esta doença. O primeiro encontro científico do 'Lung Cancer Fight Club' terá lugar no dia 22 de setembro de 2023, e o seu principal objetivo é reforçar a mensagem de que o cancro do pulmão pode ser uma doença potencialmente prevenível, rastreável e curável, e por isso acreditamos que devem ser envidados esforços concertados e cooperativos no sentido da implementação de políticas e intervenções de saúde pública.

*Para mais informações sobre o Lung Cancer Fight Club, consulte o nosso site aqui

Editado por John Lee, Content Developer da Equipa de Comunicação, Eventos & Outreach da Fundação Champalimaud.
International Lung Cancer Day

 
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