08 Setembro 2023

Zoom-In on Champalimaud - Terceira Edição - Número 7

Do Dia do Alzheimer (21 de setembro) ao Dia do Lixo Zero (30 de março), quase todos os dias são dias (inter)nacionais! E, como na Fundação Champalimaud não faltam pessoas com um vasto leque de experiências, interesses e conhecimento, para a 3ª Edição de 'Zoom-In' decidimos desafiar um membro da nossa comunidade com uma ligação especial à data que assinalamos.

Teresa Seguro - World Physiotherapy Day

O Dia Mundial da Fisioterapia é comemorado desde 1996, mas o facto de a escolha de data ter recaído no dia 8 de setembro prende-se com o facto de a Fisioterapia Mundial (um coletivo global de Fisioterapeutas) ter sido fundada nesse dia, em 1951.

A data marca a unidade e a solidariedade da comunidade global de fisioterapia. É também uma oportunidade de reconhecer o trabalho que os fisioterapeutas realizam com e pelos seus doentes e comunidade.

Teresa Seguro é Fisioterapeuta com um percurso profissional na área cardiorrespiratória há mais de 30 anos, no doente em contexto agudo e crónico, revelando larga experiência na intervenção em condição pré e pós-operatória e tendo frequentado vários cursos a nível nacional e internacional em reabilitação respiratória. Atualmente coordena a equipa de Fisioterapeutas da Fundação Champalimaud. A atividade da equipa centra-se exclusivamente na reabilitação do doente em regime de internamento. Apostando sempre na melhoria da continuidade de cuidados, procuramos desenvolver um projeto dirigido à otimização da condição pré-operatória do doente oncológico.


8 de setembro é o Dia Mundial da Fisioterapia, mas qual é o papel da fisioterapia no tratamento do cancro?

A Fisioterapia tem um papel importante na doença oncológica, destaca-se a contribuição no controlo de sintomatologia como a dor, a dispneia, a fadiga e fraqueza muscular, provocadas pelo contexto da doença e tratamento cirúrgico, Quimioterapia e/ou Radioterapia. Os ganhos obtidos ao nível da função motora, podem contribuir para reduzir a ansiedade e aumentar a sensação de bem-estar. O plano de tratamento é individualizado, tendo sempre em consideração as necessidades específicas do doente e o estádio da doença. Podemos concluir que a Fisioterapia não só contribui para a melhoria física, mas também para o fortalecimento mental e emocional dos doentes, capacitando-os a enfrentar o cancro com mais confiança e resiliência.


É fácil imaginar que alguém que foi recentemente diagnosticado com cancro, ou que acabou de ser operado, não veja a fisioterapia como uma prioridade. O que diria a essas pessoas?

De um modo geral existe uma crença na população, em que na sequência de uma doença ou no decorrer dum processo cirúrgico, o mais adequado é descansar. Compreende-se que os efeitos secundários dos tratamentos, o sofrimento emocional subjacente às implicações da doença, ou mesmo a falta de informação sobre esta matéria possam contribuir para esse sentimento.

Neste contexto cabe à Equipa informar sobre os benefícios e ganhos que o doente pode obter com a Fisioterapia. Destacam-se a redução de sintomas como a dor, cansaço, desconforto respiratório, melhoria da sensação de bem estar, aumento da mobilidade e da força muscular, permitindo uma recuperação mais rápida e uma alta mais precoce.

Além disso, sendo a doença oncológica considerada cada vez mais como uma doença crónica, a fisioterapia desempenha um papel importante na melhoria da qualidade de vida do doente. Pode ajudar a controlar e gerir os efeitos secundários dos tratamentos de longa duração, como referido anteriormente, mas também pode oferecer orientação, aconselhamento e acompanhamento. Educação, informação e disponibilidade para esclarecer dúvidas resultam sempre numa melhoria da autoestima, facilitam a reintrodução de rotinas e o regresso à vida profissional e social e, acima de tudo, promovem uma sensação de bem-estar e normalidade.

Ao melhorar o condicionamento físico, a fisioterapia contribui para a saúde mental e emocional, proporcionando ao doente uma sensação de controlo sobre a própria saúde e futuro.

Existem novos tratamentos ou técnicas que gostaria de implementar no âmbito do programa de fisioterapia?

A fisioterapia acompanha os doentes no internamento em contexto cirúrgico e em algumas condições agudas. Sendo a intervenção suportada pelo Programa de Recuperação Avançada (PRA) na cirurgia. Sabe-se que uma boa condição cardiorrespiratória contribui para o sucesso das intervenções, diminuição das comorbilidades e do tempo de internamento.

É importante referir que o diagnóstico precoce, as terapêuticas a que está sujeito, a presença de alguns hábitos de vida pouco saudáveis, como a má alimentação (obesidade) e o sedentarismo e inclusive, o receio do desconhecido, não são promotores da adesão à prática regular de exercício.

Neste contexto a equipa de Fisioterapia do Centro Clínico Champalimaud teria todo o interesse em implementar uma consulta de avaliação pré-operatória, para otimizar a condição do doente antes da intervenção cirúrgica. Seria disponibilizado um plano de exercícios que o doente deveria manter de forma autónoma no seu domicílio. Estes resultados poderiam ser comparados com as avaliações realizadas no pós-operatório. Criar um contexto em que o doente está na condição mais saudável possível antes e depois do tratamento é o nosso objetivo primordial.

Tem alguma mensagem importante que gostasse de partilhar sobre a fisioterapia num contexto oncológico?

Os sobreviventes de cancro que têm por hábito praticar exercício físico, diminuem a probabilidade de recorrência da doença, relativamente aos restantes.

De modo geral, esta população é menos ativa do que os indivíduos que nunca atravessaram um processo de doença oncológica, sendo importante salientar que a prática de exercício diminui substancialmente após o diagnóstico, e esta tendência também é comum em pessoas que já tinham este hábito enraizado na sua rotina.

Para facilitar a adesão ao exercício dos doentes oncológicos, é necessária uma boa compreensão dos incentivos e das barreiras nesta população, bem como a aplicação de estratégias criativas para a modificação comportamental. A intervenção do fisioterapeuta é fundamental, porque pode intervir e apoiar o doente em todas as fases do processo.

A prática de uma atividade física pode ser encarada como uma oportunidade do doente de recuperar ocontrolo sobre a sua saúde, sentindo-se como um elemento ativo no combate à doença e na prevenção da sua recorrência.

Editado por John Lee, Content Developer da Equipa de Comunicação, Eventos & Outreach da Fundação Champalimaud.
Zoom-In on Champalimaud - Terceira Edição - Número 7

 

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