O Dia Mundial da Fisioterapia é comemorado desde 1996, mas o facto de a escolha de data ter recaído no dia 8 de setembro prende-se com o facto de a Fisioterapia Mundial (um coletivo global de Fisioterapeutas) ter sido fundada nesse dia, em 1951.
A data marca a unidade e a solidariedade da comunidade global de fisioterapia. É também uma oportunidade de reconhecer o trabalho que os fisioterapeutas realizam com e pelos seus doentes e comunidade.
Teresa Seguro é Fisioterapeuta com um percurso profissional na área cardiorrespiratória há mais de 30 anos, no doente em contexto agudo e crónico, revelando larga experiência na intervenção em condição pré e pós-operatória e tendo frequentado vários cursos a nível nacional e internacional em reabilitação respiratória. Atualmente coordena a equipa de Fisioterapeutas da Fundação Champalimaud. A atividade da equipa centra-se exclusivamente na reabilitação do doente em regime de internamento. Apostando sempre na melhoria da continuidade de cuidados, procuramos desenvolver um projeto dirigido à otimização da condição pré-operatória do doente oncológico.
8 de setembro é o Dia Mundial da Fisioterapia, mas qual é o papel da fisioterapia no tratamento do cancro?
A Fisioterapia tem um papel importante na doença oncológica, destaca-se a contribuição no controlo de sintomatologia como a dor, a dispneia, a fadiga e fraqueza muscular, provocadas pelo contexto da doença e tratamento cirúrgico, Quimioterapia e/ou Radioterapia. Os ganhos obtidos ao nível da função motora, podem contribuir para reduzir a ansiedade e aumentar a sensação de bem-estar. O plano de tratamento é individualizado, tendo sempre em consideração as necessidades específicas do doente e o estádio da doença. Podemos concluir que a Fisioterapia não só contribui para a melhoria física, mas também para o fortalecimento mental e emocional dos doentes, capacitando-os a enfrentar o cancro com mais confiança e resiliência.
É fácil imaginar que alguém que foi recentemente diagnosticado com cancro, ou que acabou de ser operado, não veja a fisioterapia como uma prioridade. O que diria a essas pessoas?
De um modo geral existe uma crença na população, em que na sequência de uma doença ou no decorrer dum processo cirúrgico, o mais adequado é descansar. Compreende-se que os efeitos secundários dos tratamentos, o sofrimento emocional subjacente às implicações da doença, ou mesmo a falta de informação sobre esta matéria possam contribuir para esse sentimento.
Neste contexto cabe à Equipa informar sobre os benefícios e ganhos que o doente pode obter com a Fisioterapia. Destacam-se a redução de sintomas como a dor, cansaço, desconforto respiratório, melhoria da sensação de bem estar, aumento da mobilidade e da força muscular, permitindo uma recuperação mais rápida e uma alta mais precoce.
Além disso, sendo a doença oncológica considerada cada vez mais como uma doença crónica, a fisioterapia desempenha um papel importante na melhoria da qualidade de vida do doente. Pode ajudar a controlar e gerir os efeitos secundários dos tratamentos de longa duração, como referido anteriormente, mas também pode oferecer orientação, aconselhamento e acompanhamento. Educação, informação e disponibilidade para esclarecer dúvidas resultam sempre numa melhoria da autoestima, facilitam a reintrodução de rotinas e o regresso à vida profissional e social e, acima de tudo, promovem uma sensação de bem-estar e normalidade.
Ao melhorar o condicionamento físico, a fisioterapia contribui para a saúde mental e emocional, proporcionando ao doente uma sensação de controlo sobre a própria saúde e futuro.
Existem novos tratamentos ou técnicas que gostaria de implementar no âmbito do programa de fisioterapia?
A fisioterapia acompanha os doentes no internamento em contexto cirúrgico e em algumas condições agudas. Sendo a intervenção suportada pelo Programa de Recuperação Avançada (PRA) na cirurgia. Sabe-se que uma boa condição cardiorrespiratória contribui para o sucesso das intervenções, diminuição das comorbilidades e do tempo de internamento.
É importante referir que o diagnóstico precoce, as terapêuticas a que está sujeito, a presença de alguns hábitos de vida pouco saudáveis, como a má alimentação (obesidade) e o sedentarismo e inclusive, o receio do desconhecido, não são promotores da adesão à prática regular de exercício.
Neste contexto a equipa de Fisioterapia do Centro Clínico Champalimaud teria todo o interesse em implementar uma consulta de avaliação pré-operatória, para otimizar a condição do doente antes da intervenção cirúrgica. Seria disponibilizado um plano de exercícios que o doente deveria manter de forma autónoma no seu domicílio. Estes resultados poderiam ser comparados com as avaliações realizadas no pós-operatório. Criar um contexto em que o doente está na condição mais saudável possível antes e depois do tratamento é o nosso objetivo primordial.
Tem alguma mensagem importante que gostasse de partilhar sobre a fisioterapia num contexto oncológico?
Os sobreviventes de cancro que têm por hábito praticar exercício físico, diminuem a probabilidade de recorrência da doença, relativamente aos restantes.
De modo geral, esta população é menos ativa do que os indivíduos que nunca atravessaram um processo de doença oncológica, sendo importante salientar que a prática de exercício diminui substancialmente após o diagnóstico, e esta tendência também é comum em pessoas que já tinham este hábito enraizado na sua rotina.
Para facilitar a adesão ao exercício dos doentes oncológicos, é necessária uma boa compreensão dos incentivos e das barreiras nesta população, bem como a aplicação de estratégias criativas para a modificação comportamental. A intervenção do fisioterapeuta é fundamental, porque pode intervir e apoiar o doente em todas as fases do processo.
A prática de uma atividade física pode ser encarada como uma oportunidade do doente de recuperar ocontrolo sobre a sua saúde, sentindo-se como um elemento ativo no combate à doença e na prevenção da sua recorrência.
Editado por John Lee, Content Developer da Equipa de Comunicação, Eventos & Outreach da Fundação Champalimaud.