No dia 1 de outubro, mais de 150 países em todo o mundo vão celebrar o poder da música para unir as pessoas e contribuir para uma sociedade mais pacífica, alegre e harmoniosa durante o Dia Internacional da Música. Aqui na Fundação Champalimaud temos vários jovens músicos, por isso pedimos a um deles para nos dar algumas pistas para combinar a música e a ciência.
Dean Rance tem feito parte da nossa comunidade desde 2020, primeiro como aluno do Programa Internacional de Doutoramento em Neurociências e agora como estudante de doutoramento no Laboratório de Matemática da Inteligência e do Comportamento, onde trabalha na identificação das bases neurais do comportamento social nas larvas de peixe-zebra. Mas fora do laboratório, também exerce os seus talentos musicais, que nos vai revelar hoje…
O dia 1 de Outubro é o Dia Internacional da Música, por isso vamos começar com uma grande pergunta: qual é a importância da música para ti?
É difícil calcular a sua importância. É como perguntar se o Sol é importante durante as férias de Verão. Continuariam a ser férias, mas com um tom completamente diferente. Poder tocar guitarra em casa é assim: se não tiver uma guitarra, fico bem, mas não estou em casa. Acho que isso coloca a música ao mesmo nível que os livros.
Com que então és guitarrista! Quando começaste a tocar?
Recebi a minha primeira guitarra aos 16 anos, mas só comecei a aprender mais do que alguns acordes e canções simples aos 20 e tal. Na altura, não tinha acesso a um professor, apenas a um pequeno livro de Ernie Ball que ensinava o básico. Os amigos passavam-me prints de acordes de guitarra e tablaturas de "canções de guitarra acústica" clássicas, de música country ou alguma música rock (pensem Wonderwall). Por vezes, os acordes estavam errados, mas não sabíamos se estávamos a tocá-los mal ou o que estava a acontecer. Acho que, por causa de todas essas tentativas e erros, demorou algum tempo até eu me sentir seguro, por isso tocar guitarra tem sido sobretudo uma experiência privada.
Acabei por adquirir mais livros de aprendizagem, comecei a seguir mais tutoriais no YouTube e a tocar em locais públicos, onde também deixava desconhecidos usarem a minha guitarra, desde que concordassem em ensinar-me alguma coisa – uma canção, uma escala, qualquer coisa. Isto ajudou-me a ganhar confiança e a aprender a rir-me de mim próprio, mas nunca cheguei ao ponto em que tocar guitarra fosse algo que eu fizesse para outros e não apenas para mim.
Portanto, começaste a tocar guitarra na mesma altura em que começaste a estudar ciência. Achas que o facto de seres músico te ajudou de alguma forma a te tornares cientista?
Em rigor, não estudei (muita) ciência. Formei-me em matemática e filosofia, que não usam um "método científico", mas que podem ser muito analíticas. Entre o fim da licenciatura e o início do mestrado, passei alguns anos a "trabalhar na indústria" como cientista de dados, grande parte dos quais como freelancer.
Para responder à tua pergunta, a guitarra não me ajuda directamente no meu trabalho, mas ajuda-me sem dúvida a manter um equilíbrio entre a minha vida profissional e a minha vida pessoal, a desligar do trabalho e a desenvolver um sentido de progressão pessoal. Esta distinção entre trabalho e vida fora do trabalho é tão importante para um estudante como para um freelancer; e o desenvolvimento pessoal, creio eu, é importante para que a identidade de uma pessoa não se confunda com seu trabalho.
Se a música te ajuda como cientista, talvez a ciência te possa ajudar como músico! George Gershwin chamou à música uma "ciência emocional"; Vangelis disse que "a música é mais ciência do que arte, e é o código principal do universo". Dado que a música pode ser descrita como ciência, e manifestada por vibrações, ondas sonoras, etc., será que a tua formação científica facilita (ou dificulta?) a aprendizagem de um instrumento?
"Ciência, manifestada" é uma forma engraçada de dizer "engenharia". Mas sim, é uma proeza maravilhosa aproximar log2(3/2) com 7/12 para nos dar sete notas numa escala de 12... Não lembra a ninguém!
Penso que a minha formação em matemática me proporcionou uma forma de compreender a música quando esta não era intuitivamente clara. Algumas pessoas simplesmente percebem, mas o resto de nós precisa que as coisas nos sejam explicadas e, por vezes, é difícil encontrar o enquadramento ou a linguagem correcta para isso. Para mim, esse enquadramento foi em parte a matemática. Mal as harmonias foram explicadas em termos de transformadas de Fourier, fizeram sentido.
Mas o simples facto de ser cientista também pode ajudar a aprender um instrumento. A ciência exige mentes curiosas e receptivas. Estamos constantemente a aprender e paramos frequentemente para pensar no que estamos a fazer. Acredito que a prática da aprendizagem é generalizável. Embora grande parte da aprendizagem de um instrumento consista na aquisição de conhecimentos processuais (e a ciência pode certamente ajudar-nos a optimizar isso), há também uma grande componente declarativa: por exemplo, quais são os intervalos numa escala e como criamos acordes a partir deles; como estão distribuídas as notas no braço da guitarra; quais são os motivos comuns aos diferentes géneros; e como é que tudo isto se encaixa? Espero ter razão quando finalmente pegar noutro instrumento!
Que tipo de música vais ouvir esta noite?
Esta noite, provavelmente o Hino Nacional da África do Sul! Vamos jogar contra Tonga no Campeonato do Mundo de Ráguebi. Mas posso dizer-vos que música vou ouvir amanhã à noite: pop-punk (é um dos meus prazeres secretos), e em particular as lendas do punk, os Blink-182, no Altice Arena.
Se me tivessem perguntado noutro dia qualquer, a minha resposta teria sido provavelmente electroswing! Acho que o electroswing é um género criminalmente subestimado, especialmente com o aumento da popularidade da música eletrónica. O electroswing energiza-me ou mantém-me concentrado: posso correr ao som desta música, escrever código, lavar pratos ao som desta música (não, ainda não sei dançar swing). Tem uma batida eletrónica que nos arrebata o coração e síncopes de provocar arritmias: o que há para não adorar? Não que eu consiga tocar, nem electroswing, nem pop-punk, numa guitarra acústica. Normalmente só toco rock, tempo 4/4, acordes abertos, a menos que esteja a praticar algo em particular.
Editado por John Lee, Content Developer da Equipa de Comunicação, Eventos & Outreach da Fundação Champalimaud.
