02 Outubro 2023

Zoom-In on Champalimaud - Terceira Edição - Número 8

Do Dia do Alzheimer (21 de setembro) ao Dia do Lixo Zero (30 de março), quase todos os dias são dias (inter)nacionais! E, como na Fundação Champalimaud não faltam pessoas com um vasto leque de experiências, interesses e conhecimento, para a 3ª Edição de 'Zoom-In' decidimos desafiar um membro da nossa comunidade com uma ligação especial à data que assinalamos.

Dean Rance - International Music Day

No dia 1 de outubro, mais de 150 países em todo o mundo vão celebrar o poder da música para unir as pessoas e contribuir para uma sociedade mais pacífica, alegre e harmoniosa durante o Dia Internacional da Música. Aqui na Fundação Champalimaud temos vários jovens músicos, por isso pedimos a um deles para nos dar algumas pistas para combinar a música e a ciência.

Dean Rance tem feito parte da nossa comunidade desde 2020, primeiro como aluno do Programa Internacional de Doutoramento em Neurociências e agora como estudante de doutoramento no Laboratório de Matemática da Inteligência e do Comportamento, onde trabalha na identificação das bases neurais do comportamento social nas larvas de peixe-zebra. Mas fora do laboratório, também exerce os seus talentos musicais, que nos vai revelar hoje…

O dia 1 de Outubro é o Dia Internacional da Música, por isso vamos começar com uma grande pergunta: qual é a importância da música para ti?

É difícil calcular a sua importância. É como perguntar se o Sol é importante durante as férias de Verão. Continuariam a ser férias, mas com um tom completamente diferente. Poder tocar guitarra em casa é assim: se não tiver uma guitarra, fico bem, mas não estou em casa. Acho que isso coloca a música ao mesmo nível que os livros.


Com que então és guitarrista! Quando começaste a tocar?

Recebi a minha primeira guitarra aos 16 anos, mas só comecei a aprender mais do que alguns acordes e canções simples aos 20 e tal. Na altura, não tinha acesso a um professor, apenas a um pequeno livro de Ernie Ball que ensinava o básico. Os amigos passavam-me prints de acordes de guitarra e tablaturas de "canções de guitarra acústica" clássicas, de música country ou alguma música rock (pensem Wonderwall). Por vezes, os acordes estavam errados, mas não sabíamos se estávamos a tocá-los mal ou o que estava a acontecer. Acho que, por causa de todas essas tentativas e erros, demorou algum tempo até eu me sentir seguro, por isso tocar guitarra tem sido sobretudo uma experiência privada.

Acabei por adquirir mais livros de aprendizagem, comecei a seguir mais tutoriais no YouTube e a tocar em locais públicos, onde também deixava desconhecidos usarem a minha guitarra, desde que concordassem em ensinar-me alguma coisa – uma canção, uma escala, qualquer coisa. Isto ajudou-me a ganhar confiança e a aprender a rir-me de mim próprio, mas nunca cheguei ao ponto em que tocar guitarra fosse algo que eu fizesse para outros e não apenas para mim.


Portanto, começaste a tocar guitarra na mesma altura em que começaste a estudar ciência. Achas que o facto de seres músico te ajudou de alguma forma a te tornares cientista?

Em rigor, não estudei (muita) ciência. Formei-me em matemática e filosofia, que não usam um "método científico", mas que podem ser muito analíticas. Entre o fim da licenciatura e o início do mestrado, passei alguns anos a "trabalhar na indústria" como cientista de dados, grande parte dos quais como freelancer.

Para responder à tua pergunta, a guitarra não me ajuda directamente no meu trabalho, mas ajuda-me sem dúvida a manter um equilíbrio entre a minha vida profissional e a minha vida pessoal, a desligar do trabalho e a desenvolver um sentido de progressão pessoal. Esta distinção entre trabalho e vida fora do trabalho é tão importante para um estudante como para um freelancer; e o desenvolvimento pessoal, creio eu, é importante para que a identidade de uma pessoa não se confunda com seu trabalho.


Se a música te ajuda como cientista, talvez a ciência te possa ajudar como músico! George Gershwin chamou à música uma "ciência emocional"; Vangelis disse que "a música é mais ciência do que arte, e é o código principal do universo". Dado que a música pode ser descrita como ciência, e manifestada por vibrações, ondas sonoras, etc., será que a tua formação científica facilita (ou dificulta?) a aprendizagem de um instrumento?

"Ciência, manifestada" é uma forma engraçada de dizer "engenharia". Mas sim, é uma proeza maravilhosa aproximar log2(3/2) com 7/12 para nos dar sete notas numa escala de 12... Não lembra a ninguém!

Penso que a minha formação em matemática me proporcionou uma forma de compreender a música quando esta não era intuitivamente clara. Algumas pessoas simplesmente percebem, mas o resto de nós precisa que as coisas nos sejam explicadas e, por vezes, é difícil encontrar o enquadramento ou a linguagem correcta para isso. Para mim, esse enquadramento foi em parte a matemática. Mal as harmonias foram explicadas em termos de transformadas de Fourier, fizeram sentido.

Mas o simples facto de ser cientista também pode ajudar a aprender um instrumento. A ciência exige mentes curiosas e receptivas. Estamos constantemente a aprender e paramos frequentemente para pensar no que estamos a fazer. Acredito que a prática da aprendizagem é generalizável. Embora grande parte da aprendizagem de um instrumento consista na aquisição de conhecimentos processuais (e a ciência pode certamente ajudar-nos a optimizar isso), há também uma grande componente declarativa: por exemplo, quais são os intervalos numa escala e como criamos acordes a partir deles; como estão distribuídas as notas no braço da guitarra; quais são os motivos comuns aos diferentes géneros; e como é que tudo isto se encaixa? Espero ter razão quando finalmente pegar noutro instrumento!


Que tipo de música vais ouvir esta noite?

Esta noite, provavelmente o Hino Nacional da África do Sul! Vamos jogar contra Tonga no Campeonato do Mundo de Ráguebi. Mas posso dizer-vos que música vou ouvir amanhã à noite: pop-punk (é um dos meus prazeres secretos), e em particular as lendas do punk, os Blink-182, no Altice Arena.

Se me tivessem perguntado noutro dia qualquer, a minha resposta teria sido provavelmente electroswing! Acho que o electroswing é um género criminalmente subestimado, especialmente com o aumento da popularidade da música eletrónica. O electroswing energiza-me ou mantém-me concentrado: posso correr ao som desta música, escrever código, lavar pratos ao som desta música (não, ainda não sei dançar swing). Tem uma batida eletrónica que nos arrebata o coração e síncopes de provocar arritmias: o que há para não adorar? Não que eu consiga tocar, nem electroswing, nem pop-punk, numa guitarra acústica. Normalmente só toco rock, tempo 4/4, acordes abertos, a menos que esteja a praticar algo em particular.

Editado por John Lee, Content Developer da Equipa de Comunicação, Eventos & Outreach da Fundação Champalimaud.

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