No dia 16 de novembro, o Dia Mundial do Cancro do Pâncreas pretende sensibilizar para esta doença mortal, com o objetivo final de melhorar as taxas de sobrevivência e reduzir os riscos de cancro do pâncreas a nível mundial.
Para discutir a importância da sensibilização para o cancro do pâncreas, falámos com Marta Bello, enfermeira especialista em oncologia da Unidade de Digestivo do Centro Clínico Champalimaud e integrante do grupo central que lidera o Programa Fast Track Pancreas no recém-inaugurado Botton-Champalimaud Pancreatic Cancer Centre. A Marta trabalha na Fundação Champalimaud desde 2013, onde iniciou funções no Hospital de Dia, e de onde saiu para participar na criação do Programa Fast Track Pancreas em 2017, fazendo parte do programa desde então. A Marta é mestre em Enfermagem Médico-Cirúrgica, tendo desenvolvido a sua tese sobre a promoção da vertente do Cancer Patient Advocacy nos cuidados de enfermagem.
O Botton-Champalimaud Pancreatic Cancer Centre é um dos primeiros centros mundiais dedicado ao tratamento e investigação do cancro do pâncreas. Qual a razão por trás da sua criação, neste momento?
A dura verdade que o cancro do pâncreas hoje representa, tem vindo a ser revelada nos últimos tempos. Desde há 20 anos que assistimos ao aumento da sua incidência. Atualmente constitui a quarta causa de morte por cancro na Europa, estimando-se que nos próximos 10 a 20 anos se torne na segunda causa de morte por cancro na Europa. Quando comparado com outras doenças oncológicas, o cancro do pâncreas nem sempre teve o interesse e o investimento necessários a nível científico.
Hoje é urgente unir esforços para lutar contra esta dura realidade. É necessário que os cientistas e os profissionais de saúde trabalhem em equipa para encontrar novas respostas de tratamento e diagnóstico precoce. No dia a dia, quando acompanhamos centenas de pessoas com cancro do pâncreas, é necessário que cada decisão tomada pelas equipas multidisciplinares conte com o sucesso desta proximidade.
O Botton-Champalimaud Pancreatic Cancer Centre tem como objetivo aumentar o conhecimento da doença, descobrir novas formas de tratamento e aproximar estes dois intervenientes fundamentais nesta luta contra o cancro do pâncreas.
A Marta menciona “aumentar a consciencialização”, e um dos temas do Dia Mundial do Cancro Pancreático é “conhecer o seu pâncreas”. Por que é importante que as pessoas saibam mais sobre o pâncreas?
Com "Conheça o seu pâncreas" estamos provavelmente a falar de melhorar a nossa consciência sobre o que é o pâncreas, quais as suas funções, a importância de manter a sua saúde, bem como podemos fazê-lo. Para o cancro do pâncreas estão identificados como principais fatores de risco o tabaco, o consumo de álcool em excesso e a obesidade. Evitar tais consumos, seguir uma alimentação saudável e ter um estilo de vida ativo com prática regular de atividade física são opções que todos devemos tomar.
Conhecer o pâncreas é também reconhecer sinais e sintomas que podem indicar doença, nomeadamente o cancro. O cancro do pâncreas é muitas vezes uma doença que surge de forma quase silenciosa. Os sintomas são poucos e facilmente confundidos com outros problemas. A título de exemplo, estamos a falar de dor abdominal, enjoos, falta de apetite, perda de peso e cansaço, entre outros.
Conhecer o pâncreas facilitará a procura de ajuda médica para um diagnóstico precoce, o que, por sua vez, aumentará as possibilidades terapêuticas.
Poderia descrever algumas de suas funções enquanto enfermeira especialista no Botton-Champalimaud Pancreatic Cancer Centre, e o que mais a entusiasma nessa função?
No programa Fast Track Pancreas, o enfermeiro é na maioria das vezes o 1o ponto de contacto do doente com o Centro Clínico Champalinaud, acompanhando-o de perto e durante toda a trajetória até à tomada de
decisão terapêutica.
Gosto de conhecer cada caso na sua especificidade e de dar oportunidade ao doente e família de nos transmitirem as suas principais preocupações e medos, ajudar a estabelecer prioridades, auxiliar numa tomada de decisão consciente e informada.
Para além disso, faz parte do meu trabalho ser ponto de contacto entre os vários intervenientes da equipa multidisciplinar. Gosto que o meu trabalho contribua para uma comunicação eficaz entre todos e que seja facilitador de uma tomada de decisão célere e focada no doente.
A parte mais desafiante (mas também mais gratificante) é juntar tudo isto para criar uma boa experiência de cuidados de saúde para o doente, em tempo útil.
Para terminar, o que espera, no futuro, para a equipa de enfermagem do Programa Fast Track Pancreas?
Gostava que a equipa continuasse a crescer de forma apaixonada pelo que faz. Acredito que assim seremos capazes de nos mantermo-nos próximos do doente aumentando os frutos do nosso trabalho na relação com o doente e na relação com a equipa multidisciplinar.
Ser enfermeiro do programa Fast Track Pancreas é exigente e desafiante todos os dias. Não é o tipo de trabalho de enfermagem que se fala nas Universidades, nem o que estamos habituados a ter nos hospitais e centros de saúde.
Gostava também que esta enfermagem chegasse à Investigação em Enfermagem e às Universidades, como parte do corpo teórico da formação base dos novos enfermeiros, e à Investigação em enfermagem, para aumentarmos o nosso conhecimento sobre o acompanhamento e os cuidados de enfermagem à pessoa com cancro do pâncreas, estreitando a distância que nos liga à comunidade científica.
Editado por John Lee, Content Developer da Equipa de Comunicação, Eventos & Outreach da Fundação Champalimaud.