Desde 1999 que o dia 11 de maio está no calendário médico como o Dia Europeu do Melanoma (ou simplesmente ‘Euromelanoma’). Com origem na Bélgica, é hoje assinalado em 24 países, onde a importância da ação preventiva, do diagnóstico precoce e do tratamento adequado na luta contra o cancro de pele são o mote da campanha.
Nesta edição do Zoom-In, Daniela Cunha, coordenadora da Unidade de Dermatologia da Fundação Champalimaud e cirurgiã de Mohs, respondeu gentilmente às nossas perguntas sobre o seu trabalho. Desde cedo no seu percurso profissional, desenvolveu uma dedicação especial ao cancro cutâneo. Após a sua formação em cirurgia no St John's Institute of Dermatology, e ao longo dos últimos 12 anos, estabeleceu-se como cirurgiã de Mohs em Lisboa. Dedica-se particularmente ao Melanoma Maligno, acompanhando a inovação terapêutica nesta área. Além da atividade clínica orientada para o cancro cutâneo, realiza também investigação nesta área. Tem especial interesse na imunopatologia do cancro cutâneo, procurando identificar novos potenciais alvos terapêuticos. Privilegia a inovação nas técnicas de imagem não-invasivas procurando otimizar o diagnóstico clínico e os tratamentos cirúrgicos, na procura da melhoria da qualidade de vida e da sobrevida dos doentes com cancro da pele.
Q1. Um dos principais objetivos do Dia Europeu do Melanoma é aumentar a consciencialização: o que devemos saber exatamente sobre o melanoma?
Prevenção e diagnóstico precoce: a prevenção do melanoma reside na adoção de hábitos de convívio saudável com o sol; o diagnóstico precoce depende da obtenção de ajuda médica, em fase inicial da doença. A observação da pele permite a identificação de alterações que possam sugerir o aparecimento de um melanoma maligno, tais como a modificação de um sinal pré-existente ou o aparecimento de um sinal novo, de crescimento rápido, com mais de uma cor (por exemplo castanho e negro), com formato irregular ou assimétrico e especialmente um sinal que se distingue do nosso padrão de sinais – o “patinho feio”. Estes são sinais de alerta que devem suscitar uma observação especializada. A auto-vigilância não dispensa, no entanto, a observação regular da pele por um Dermatologista, em particular nas pessoas com fatores de risco para melanoma maligno ou acima dos 50 anos de idade.
Q2. Existem riscos ou comportamentos específicos que devemos ter em consideração para reduzir os riscos de melanoma?
O melanoma maligno é um cancro da pele fortemente relacionado com a exposição intensa ao sol, em particular com a queimadura solar. Alerto no entanto que, quando a pele fica rosada ou vermelha após a exposição ao sol, já se trata de uma forma de queimadura solar. Assim, as principais medidas preventivas assentam na adoção de comportamentos saudáveis quando nos expomos ao sol:
- Evitar a exposição prolongada nos horários de risco (em Portugal falamos no intervalo das 12h às 16h). Em diferentes latitudes, este horário pode variar e devemos então seguir a regra da sombra: se a nossa sombra for menor que a nossa estatura, estamos em período de risco;
- A melhor proteção é o vestuário, o chapéu com abas e os óculos com proteção ultravioleta (UV);
- Nas áreas não protegidas pelo vestuário, deve ser aplicado protetor solar de modo a garantir que toda a área exposta fica adequadamente coberta, e este deve ser reaplicado a cada 2-3 horas se se mantiver sob exposição solar ou após banhos;
- As pessoas com a pele clara, cabelos claros/ruivos e olhos claros, assim como as pessoas com muitos sinais (>50), estão em maior risco, pelo que estes cuidados devem ser intensificados nestes grupos;
- De modo a identificar precocemente uma lesão de melanoma, recomenda-se a auto-observação da pele na sua totalidade, a cada 2 meses, e a observação por um dermatologista a intervalos regulares (dependendo das características individuais).
O risco associado a uma queimadura solar na infância ou adolescência é superior ao da idade adulta. No entanto, os efeitos da exposição solar são cumulativos ao longo da vida. A vermelhidão da queimadura solar desaparece em dias mas as lesões do DNA que podem levar ao melanoma maligno, vão-se acumulando e aumentando progressivamente este risco.
Q3. Como é que o Dia Europeu do Melanoma está a ser assinalado na Fundação Champalimaud?
O Euromelanoma Day é uma iniciativa europeia que resulta dos esforços concertados de Dermatologistas a nível Europeu. É uma data dedicada à sensibilização para o Melanoma Maligno e acontece em Maio, altura em que na Europa aumenta a tendência para a exposição solar a par do aumento da intensidade da radiação UV. Durante este mês, as Unidades de Dermatologia envolvidas na iniciativa disponibilizam um dia dedicado ao rastreio de cancro da pele. O rastreio é dirigido à população em geral, especialmente aos grupos de maior risco.
Editado por John Lee, Content Developer da Equipa de Comunicação, Eventos & Outreach da Fundação Champalimaud.